O advento da disseminação dos impressos no contexto europeu ao longo da primeira modernidade (XV-XVIII), fenômeno que teve na introdução e popularização da prensa de Gutenberg seu estopim, ocasionou mudanças significativas nessas sociedades, influenciando a maneira como os indivíduos passaram a perceber suas realidades. Não só houve um paulatino aumento no fluxo de textos impressos, como também em seus formatos, naturezas, formas de consumo, circulação e comercialização.Fatores como barateamento e aceleração de produção permitiram que, além de palavras, imagens impressas alcançassem um público cada vez mais amplo e variado. Assim, a chamada "cultura impressa" pode ser compreendida justamente a partir da articulação entre a comunicação, a transmissão e a produção de materiais impressos com as experiências, condutas e práticas vividas pelos agentes em suas realidades. A cultura impressa engloba, portanto, as práticas coletivas que conferem autoridade à impressão (CHARTIER, 2014) e aos materiais derivados dela.Os impressos ditos de natureza "efêmera", ou seja, produzidos não necessariamente com a intenção de resistir às intempéries do tempo (como era o caso dos livros), mas sim objetivando consumo e disseminação rápidos, desfrutaram de um grande e novo poder de alcance. Folhetos, bilhetes, canards, panfletos, cartazes, broadsides e baladas compartilhavam, em geral, as características de serem pequenos, leves -ou seja, frágeis -, e de um custo de produção e comercialização relativamente baixos. A prática da leitura em voz alta, ainda persistente no período, e a forma como eram comercializados pelos mascates tornava possível a esses impressos cruzarem, muitas vezes, as barreiras do letramento e da erudição.