Impacto do estado nutricional e do tempo de jejum nas complicações gastrointestinais e no tempo de hospitalização em pacientes cirúrgicos

Abstract

Introdução: O estado nutricional e o tempo de jejum pré e pós-cirúrgico impactam na morbimortalidade de pacientes submetidos a cirurgias eletivas. No Brasil, o tempo de jejum prolongado e a elevada prevalência de desnutrição são comuns nos hospitais terciários. Objetivo: Realizar levantamento do tempo de jejum médio praticado em hospital terciário e avaliar o impacto do jejum pré e pós-cirúrgico e do estado nutricional nas complicações gastrointestinais imediatas e no tempo de hospitalização em pacientes cirúrgicos. Material e métodos: Estudo prospectivo, realizado no Hospital Universitário Walter Cantídio, em Fortaleza. Foram avaliados 173 indivíduos submetidos a cirurgias eletivas de médio e grande porte entre agosto de 2016 a janeiro de 2017. Foram coletadas medidas antropométricas, hemograma e informações como tempo de jejum pré e pós-cirúrgico, permanência hospitalar e complicações gastrointestinais. As análises de correlação e associação foram realizadas no Software SPSS®, com nível de significância fixado em p< 0,05. Resultados: A maioria dos pacientes (71,1%) foi submetida à cirurgia de porte II (grande porte). Houve correlação negativa entre tempo de permanência hospitalar e índice de massa corporal [r= -0,223; p= 0,003], circunferência braquial [r= -0,335; p< 0,001], dobra cutânea tricipital [r= -0,320; p< 0,001], área muscular do braço corrigida [r= -0,253; p= 0,001], contagem total de linfócitos [r= -0,223; p= 0,008], hemoglobina [r= -0,243; p= 0,004] e relação linfócito/monócito [r= -0,308; p< 0,001]. Adicionalmente, houve correlação positiva entre tempo de permanência hospitalar com o tempo de jejum pós-cirúrgico [r= 0,456; p< 0,001]. Ausência de complicações gastrointestinais foi associada a valores de triagem (Nutritional Risk Screenin-2002) < 3 (p= 0,034) e entre menor tempo de jejum pós-cirúrgico (p= 0,033). Conclusão: Pacientes desnutridos, com maior risco nutricional e os que se submeteram a um tempo de jejum pós-cirúrgico elevado apresentaram maior tempo de permanência hospitalar e maior incidência de complicações gastrointestinais.

Jejum pós-operatório prolongado

“…Há diversos estudos retratando a realidade brasileira que apuraram média superior de jejum, semelhante aos achados deste estudo: 17,9 horas (Dp 17,8) em cirurgias de porte um e de 45,8 (Dp 35,0) em cirurgias de porte dois; 12 18,2 horas, variando de 3,3 horas a 98,8 horas. 16 Destacaram-se nesses resultados os valores extremos de tempo de jejum absoluto, o que representa sofrimento intenso nesses pacientes.…”

“…Na prática clínica, porém, essas recomendações não são seguidas, podendo o tempo de jejum ser reduzido ou dilatado em excesso, acarretando aumento do tempo de internação e complicações pós-cirúrgicas, como fome, estresse e sede. 12 Um dos fatores que contribuem para a insatisfação do paciente quanto à sua experiência cirúrgica é a sede, que tem sido relatada como o pior desconforto no pós-operatório imediato (POI), superando a fome. 13 A sede gera uma percepção negativa do período perioperatório, principalmente quando o período de jejum é superior ao necessário.…”

Food and nutrition insecurity in the perioperative period of surgical oncology patients

“…A observação de que os pacientes que experimentaram os jejuns mais longos também foram os que manifestaram mais eventos de intercorrências alimentares corrobora com os estudos que atestam a redução de náuseas, vômitos, tontura e desconforto como resultado da abreviação do jejum perioperatório 6,9,14,23 . E alerta para o cuidado e provisão da qualidade de internamento do paciente, ou seja, a promoção da qualidade de vida também durante a hospitalização causando impactos positivos relativos ao paciente, à equipe e à instituição prestadora da assistência 10,13,26 .…”

“…Mesmo no pré-operatório, os cuidados nutricionais devem ser iniciados com o objetivo de prevenir a desnutrição ou minimizar os seus efeitos. A equipe de saúde deveria considerar os cuidados nutricionais como prática indispensável para a segurança do paciente cirúrgico visto que, a resposta ao trauma cirúrgico pode desencadear o aparecimento ou agravamento da desnutrição, redução da resposta imunológica, de cicatrização e o aumento do risco infeccioso [4][5][6] .…”

“…A administração de bebida enriquecida em hidratos de carbono, por exemplo, é apontada como eficaz e seguro para a redução do desconforto no pré-operatório sem impactar o volume de fluido gástrico 8,14 . Uma vez que o jejum alimentar e hídrico prolongado afeta fatores fundamentais para o bem-estar físico e psíquico no período perioperatório 15 , a abreviação do jejum também reduz intercorrências alimentares, tais como náuseas e vômitos, nível de ansiedade, tempo e custos da permanência hospitalar 6,[10][11][12][13] .…”