RESUMOJosé-Izé, narrador-protagonista do conto São marcos, de Guimarães Rosa, conta-nos, em mise en abyme cautelar, que sua cozinheira Sá Nhá Rita Preta o alertava sobre seu recorrente comportamento preconceituoso em relação às tradições de religiosidade/misticismo do Calango-Frito, tradições estas produzidas pela transversalidade entre culturas indígenas, africanas e europeias. Eis seu alerta: "Se o senhor não aceita, é rei no seu; mas, abusar, não deve-de!" (ROSA, 2001, p. 218). Nesse contexto socioestético, refletiremos sobre práticas de violências simbólicas e físicas, bem como suas consequências para manutenção ou deslocamentos de posições e disposições que esse personagem ocasiona ao feiticeiro mais famoso da região, João Mangolô, nos sertões de Minas-Gerais. Produção político-cultural de identidades supostamente estranhas, mobilidades e reconstrução de universos existenciais heterogêneos e conectados, e transculturalidades imersas em dispositivos ecocríticos transformadores do socius performado são temas predominantes do estudo dessa narrativa, que também é uma das matrizes do paradigma estético de Rosa.
ABSTRACTJosé/Izé, the narrator-protagonist of the tale São Marcos, by Guimarães Rosa tells us, in cautious mise en abyme, that his cook Sá Nhá Rita Preta, used to warn him about his behavior towards the traditions of religiosity/mysticism of Calango-Fritotraditions produced by transversality among indigenous, African and European cultures. "If you do not accept it, you are the king in your own land; but to abuse ... ah, no way you should!" (ROSA, 2001, p. 218). In this socio-aesthetic context, we will reflect on cultural violence, and its consequences for the maintenance or displacement of actions which this character causes to most famous sorcerer of this locus, João Mangolô, in the Artigos -Jorge Alves Santana 91 backlands of Minas Gerais. Political-cultural production of supposedly strange identities, of mobilities and reconstruction of heteregeneous and interconnected existential universes, as well as transculturalities immersed in ecocritical devices transforming the socius performed, are the predominant themes in the study of this narrative, one of the matrices of Rosa's aesthetic paradigm.