Humanidades: ensino de “nova” dimensão ética na educação médica

Abstract

Resumo O objetivo deste estudo é apresentar o processo de formação ética por meio da disciplina Humanidades Médicas do curso de medicina de instituição de ensino superior do Sul do Brasil. Trata-se de pesquisa qualitativa realizada com 28 alunos matriculados entre o 1º e o 7º período. Os dados foram coletados em grupos focais, e os resultados, obtidos por análise de conteúdo, foram divididos em duas categorias temáticas: produção de si e de práticas relativas à dimensão ética da medicina; e propostas de mudança na formação humanística. Conclui-se que é necessário identificar os problemas éticos do processo de ensino-aprendizagem, desenvolver oportunidades para outras formas de conexão entre docentes e discentes e problematizar questões inerentes à ética médica.

Ética universidade e sociedade: Vozes da ética a partir do contexto universitário brasileiro

“…Resumidamente, essa formação reside em três aspectos: 1º) na correlação entre ato, fala e atitude, independentemente do tema ou conteúdo abordado; 2º) na valorização de metodologias e técnicas pedagógicas abertas à experimentação e à expressão e 3º) na conexão com a realidade e no desenvolvimento de senso crítico. Esses são desafios e temas permanentes nos debates sobre a dimensão ética da medicina, sobretudo na constituição de fronteiras e da interdisciplinaridade para o futuro profissional médico (Garcia Júnior, 2020).…”

“…A Universidade Federal de Pernambuco, campus Caruaru, criou o Laboratório de Sensibilidades, Habilidades e Expressão a fim de valorizar a percepção de si e o estabelecimento de vínculos como formas de cuidado. A disciplina Medicina e Humanidades, da Universidade de São Paulo, tem como objetivo estimular a percepção do sentido humanístico da prática médica, desenvolvendo a capacidade de reflexão dos estudantes ao introduzir valores, atitudes e habilidades fundamentais para a assistência à saúde (Garcia Júnior, 2020).…”

“…Entre alguns exemplos, a confecção de painéis com fotos de autoria dos alunos, com tema como "limites e problemas éticos na medicina" ou a elaboração de "portfólios do cuidado" para compilar e sistematizar a vivência individual do discente com uma narrativa reflexiva sobre o cuidar de um outro colega de sala de aula durante o semestre, permite a reflexão da relação consigo mesmo e com o outro em processo de análise crítica devidamente fundamentada. Esse portfólio arquitetaria o percurso de aprendizagem com trocas entre colegas, evidenciando avanços, interrogações e dificuldades, propondo síntese provisória da vivência individual e coletiva, formulando questões e avaliando o lugar do "cuidado anônimo" (Garcia Júnior, 2020). Independentemente dos métodos empregados, o desafio é construir relações pautadas na atenção e na escuta do outro, incentivando experiências e narrativas de alunos e professores numa interlocução com debates éticos.…”

“…A existência de problemas éticos na relação entre discentes e docentes é conhecida. Os professores frequentemente desejam "transmitir" o conteúdo aos estudantes, os quais, por sua vez, anseiam por aprendizagem predominantemente prática com a utilização de técnicas pré-estabelecidas (Garcia Júnior, 2020). O resultado é que ambos, professor e aluno, terão interpretações próprias e diversas desse processo.…”

“…Mais recentemente, a relação entre medicina e humanidades, de forma progressiva, tem ganhado mais espaço dentro das escolas médicas e caracteriza o que alguns pesquisadores têm chamado de movimento contra-he-gemônico. Construir estratégias e configurações que mantenham o processo educacional avaliativo-formativo-participativo -isto é, linha metodológica que se desenvolva na interseção de diferentes instâncias e disciplinas -torna-se um interessante caminho para a invenção construtivista de saberes (Garcia Júnior, 2020). Essa dimensão da educação médica deve extrapolar a demanda por "aprimoramento" de conhecimentos sobre a jurisdição do comportamento ético: a integração das humanidades não pode representar apenas mais um alicerce da medicina defensiva, por vezes presenciada, apta a evitar ações judiciais por imperícia, imprudência e negligência.…”