Homens trans e rastreamento de câncer cervical: quais as dificuldades?

Abstract

Introdução: O termo trans refere-se às pessoas cuja identidade de gênero não corresponde às normas sociais associadas a seu sexo biológico. Diversos fato-res contribuem para a dificuldade de acesso ao Sistema Único de Saúde por parte das pessoas trans. Entre eles, encontram-se o desrespeito ao nome social e a discriminaçã o. De acordo com a estimativa de 2020 do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA), o número de casos novos de câncer de colo uterino esperados para o ano de 2021 é de 16.590. O papilomavírus humano (HPV) está entre as principais causas de infecções sexualmente transmissíveis atualmente. Sua apresentação clínica pode variar de pequenas lesões inócuas até a malignização. O rastreamento frequente, em conjunto com seguimento e tratamento adequados, reduziu significati-vamente a incidência de câncer cervical. Objetivo: Avaliar as barreiras asso-ciadas à coleta da citologia oncótica cervical (CO) na população de homens trans e descrever o perfil demográfico desta população. Materiais e métodos: Questionário online de 19 itens baseado na estrutura conceitual do Health Belief Model, avaliando as percepções de suscetibilidade, gravidade, benefí-cios, barreiras e motivação geral com a saúde. Além disso, foram avaliados a familiaridade com câncer cervical, HPV e CO, a regularidade na coleta e o desejo de autocoleta. Resultados: A média de idade dos participantes foi de 30 anos. A maioria possui emprego com carteira assinada, renda de até um salário-mínimo e plano de saúde e constitui-se em solteiros, heterossexuais e trans com ensino médio completo. Esses participantes possuem boa fami-liaridade com HPV e câncer de colo uterino e estão cientes da importân-cia da coleta da CO. Menos de 20% deles estão atualizados na coleta, o que pode ser justificado pela discriminação e pelo medo de procedimentos inva-sivos, bem como pelos déficits na assistência à saúde associados à COVID-19. Apenas 25,9% expressaram desejo de autocoleta. Conclusão: Os partici-pantes, em sua maioria, estão desatualizados na coleta da CO e referem más experiências no passado, discriminação e medo de procedimentos invasivos. É papel fundamental dos profissionais de saúde se atentar para as necessi-dades dessa população marginalizada, e são necessárias políticas públicas de incentivo à coleta da CO nos homens trans.