Hidroquímica de águas superficiais e subterrâneas em Carnaúba dos Dantas, Rio Grande do Norte

Abstract

Os recursos hídricos superficiais e subterrâneos são uma importante fonte de água no semiárido brasileiro, onde a irregularidade das chuvas e a interação água-rocha produzem águas salinizadas, o que geralmente é visto em Carnaúba dos Dantas, Rio Grande do Norte. Para preencher lacunas de dados hidroquímicos no município, foram coletadas quatro amostras de águas superficiais e sete amostras de águas subterrâneas no início do período chuvoso, em fevereiro de 2020. Foram aferidos, in situ, o pH, a condutividade elétrica, a temperatura e os sólidos totais dissolvidos (STD). Os resultados das análises químicas foram interpretados a partir da construção de diagramas hidroquímicos, matriz de correlação de Spearman e equações matemáticas. O Índice de Revelle indica maior influência de salinização nas amostras coletadas em terrenos dominados por micaxistos e menor onde predominam os quartzitos e nas águas superficiais. O diagrama de Piper exibe águas que variam entre Ca2+-Mg2+-HCO3-, Na+-Cl- e Ca2+-Mg2+-Cl-, enquanto o diagrama de Stiff mostra agrupamentos em que duas amostras de poços tubulares (LAJ1 e XIQ1) se relacionam com as águas superficiais e a influência de deformações NE-SW e E-W na recarga subterrânea. A contribuição da dissolução de silicatos é apontada no diagrama de misturas, enquanto o diagrama de Gibbs evidencia o potencial aporte antrópico nas amostras de águas subterrâneas RAJ1 e CDD1 pela influência de cloretos, aporte este corroborado pelas correlações positivas dos cloretos com SO42-, NH3 e NO2-. O índice cloro-alcalino indica a relação das amostras subterrâneas em terrenos dominados por micaxistos com a troca iônica, enquanto a troca iônica reversa é predominante nas águas superficiais.

Characterization and Geomorphological Mapping of the Municipality of Carnaúba Dos Dantas – Rn, Brazilian Semi-Arid / Caracterização E Mapeamento Geomorfológico Do Município De Carnaúba Dos Dantas – Rn, Semiárido Brasileiro

“…A área de estudo está geologicamente inserida em uma região pertencente a Província Borborema, definida por Almeida et al (1977), especificamente no Domínio Rio Piranhas-Seridó, no extremo nordeste da Faixa Seridó (Carvalho, 2021;Angelim et al 2006). A Faixa Seridó, o arcabouço litoestratigráfico é constituído inicialmente pelo embasamento gnáissicomigmatítico de alto grau metamórfico com idade arqueana (Complexo Amarante e Corpo Serra do Ingá) a paleoproterozóica (Complexo Arábia e Complexo Caicó) (Costa et al 2023).…”

“…Na área de estudo, mediante o contexto geológico, são encontradas as seguintes unidades litoestratigráficas: I) O complexo gnáisso-migmatítico de idade arqueana a paleoproterozóica, do qual não aflora na área, sendo sua observação feita sob correlações estratigráficas regionais ou áreas adjacentes (Carvalho, 2021); II) O grupo Seridó, sotoposto ao complexo, de idade neoproterozóica, compreendendo na base a Formação Jucurutu (NP3sju) classificada como biotita-gnaisses, podendo conter anfibólio, com textura granoblástica a granolepidoblástica (Costa et al 2023) quartzitos muscovíticos e feldspáticos a puros, portando turmalinas pretas, aflorando em sua maior parte na porção central da área Oliveira, 2022); E no topo a Formação Seridó (NP3ss) compreendendo rochas do tipo biotita-xistos a clorita-sericita-xistos e metarritimitos, recobrindo a maior parte do município. Os micaxistos contêm feldspatos ou minerais aluminosos de médio a alto grau metamórfico, localmente restritos a baixo grau metamórfico (Carvalho, 2021; Jardim de Sá; Salim, 1980) III) As injeções graníticas Suíte Itaporanga (NP3gamma_2it) e Pegmatítica (C_Cortado_12p) compreendendo as rochas encaixantes que intrudiram o grupo Seridó e o embasamento. A Suíte Itaporanga, localizadas na porção oeste da área, é de natureza calcialcalina de médio a alto grau potássico, apresentando granitos e granodioritos, por vezes associados a dioritos.…”

“…A Suíte Itaporanga, localizadas na porção oeste da área, é de natureza calcialcalina de médio a alto grau potássico, apresentando granitos e granodioritos, por vezes associados a dioritos. Petrograficamente, é representada por anfibólio-biotita ou biotita-monzogranitos, variando a quartzo monzonitos, sienogranitos ou granodioritos (Carvalho, 2021;Costa, 2015); E os Corpos e Diques de Pegmatito, do qual são descritos como corpos alongados constituindo megacristais de feldspato potássico, quartzo e muscovita e, menos frequentemente, biotita, turmalina, granada, columbita-tantalita, berilo (esmeralda e água marinha) e espodumênio (Carvalho, 2021;Cavalcanti Neto, 2008), localizados na porção leste do município; IV) A formação Serra do Martins (ENsm) compreendendo a sequência sedimentar do qual recobre as partes mais elevadas do município, localizadas na porção sudeste; V) E por fim os Depósitos Sedimentares Aluvionares diversos (Q1a, Q2a, Q2apa), associados as coberturas que capeiam as partes mais rebaixadas da área ao longo de toda a rede de drenagem, não constados no mapa (Figura 2). Demais a mais, salienta-se também a presença de estruturas regionais de deformação rúptil, exibindo direções NNE-SSW, NE-SW (Zonas de cisalhamento Umburana e Frei Martinho) e E-W (Falhas extensionais), além de intenso fraturamento (lineamentos estruturais).…”

“…O município está inserido geomorfologicamente no domínio do Planalto da Borborema e da Depressão Sertaneja, exibindo formas de relevos ondulados e dissecados dispondo de vales em forma de U e V, onde a evolução geomorfológica se deu sob o regime de esforços tectônicos condicionados pelas falhas extensionais de direção E-W, mas sobretudo pelas Zonas de Cisalhamento Umburana e Frei Martinho paralelas a Zona de Cisalhamento Picuí-João Câmara de direção NE-SW; e ao regime morfoclimático, influenciando para o comportamento atual das cristas retilíneas, assim como para a dissecação e formação dos modelados, e na configuração da rede de drenagem (Carvalho, 2021;Mutzenberg;Corrêa, 2005).…”

“…Na área de estudo, a presença das rochas cristalinas em sua maior abrangência a qual compõem o aquífero fissural é o principal espaço de armazenamento de água subterrânea e uma fonte de acesso à água pela população, com alguns poços dispostos em torno da superfície sertaneja. Nesse contexto, a interação da água com as rochas tem resultado na dissolução de minerais, contribuindo para que maiores valores de condutividade elétrica, sólidos totais dissolvidos (STD) como o sódio, por exemplo, fossem encontrados e impactassem consideravelmente a qualidade da água para a irrigação, estando diretamente ligado aos solos (Carvalho, 2021). Além disso, eventuais chuvas torrenciais típicas do ambiente semiárido podem surgir como episódios a qual contribui para que o escoamento superficial e acentuação dos processos erosivos surjam, promovendo a formação de sulcos e ravinas, desse modo acarretando num intenso transporte de carga sedimentar, podendo desintegrar os solos e assorear os corpos hídricos da área.…”