Graus de integração entre os verbos da perífrase V1 (E) V2 em uma perspectiva de interface variação-gramaticalização

Abstract

Neste texto, à luz de uma perspectiva de interface variação-gramaticalização, abordo o uso dos verbos IR e PEGAR na perífrase V1 (E) V2, em que V2 é o verbo principal e IR e PEGAR são os verbos gramaticais auxiliares cuja função é indicar aspecto global. Quanto mais integrado estiver o verbo auxiliar ao verbo principal, mais avançado estará o processo de gramaticalização do verbo auxiliar. Com o objetivo de mensurar o grau de integração entre PEGAR e IR a V2 em diferentes comunidades de fala, analisei três fatores: presença da conjunção E entre V1 e V2, presença de pausa entre V1 e V2 e presença de material interveniente entre V1 e V2. Utilizei dados extraídos dos corpora Discurso & Gramática de Natal (RN) e do Rio de Janeiro (RJ), e do corpus do Banco de Dados VARSUL de Florianópolis (SC). Os resultados, obtidos através de análise quantitativa, mostram que: (i) em Natal, o comportamento de IR e de PEGAR é similar; (ii) no Rio de Janeiro, IR é mais frequente em perífrases sem a conjunção E e sem pausa, o que indica um maior grau de integração a V2; (iii) em Florianópolis, é PEGAR que manifesta um maior grau de integração a V2. Essas diferenças revelam um maior avanço do processo de gramaticalização de IR no Rio de Janeiro e de PEGAR em Florianópolis. Em Natal, a gramaticalização de ambos os verbos parece estar no mesmo estágio.

Análise construcional das perífrases cursivas de gerúndio: um estudo comparativo do galego e do português

“…O fator material interveniente, por sua vez, tem sido usado nos estudos, a exemplo de Travaglia (2007) e Tavares (2018), para revelar níveis de integração de uma construção, e a leitura automatizada (conjunta) ou somatória (composicional) das partes que a compõe. Diferentes elementos morfológicos e de diferentes tamanhos (extensão gráfico-fonológica) podem ocorrer entre V1 e V2 separando os elementos da perífrase.…”

“…Estudos anteriores na área, como Travaglia (2007) e Tavares (2018), têm revelado que quanto maior a integração e leitura conjunta da perífrase menor a possibilidade de sua interrupção, e que elementos que remetam a contextos anteriores ao da nova construção também são menos esperados. No caso das perífrases em análise neste trabalho, esses elementos seriam os de natureza adverbial, sobretudo locativos, e de maior extensão morfofonológica, pois apontam para usos anteriores ao perifrástico, sendo interpretados como possíveis argumentos de estar e ficar em seus empregos iniciais (relacionais de lugar, tempo, modo etc.).…”