Gramaticalização e gramática gerativa: Fundamentação, o problema mente/corpo e domínios de validade

Abstract

Trata-se aqui de um trabalho de natureza epistemológica/historiográfica que coteja duas perspectivas teóricas: a Gramática Gerativa) e a Gramaticalização, tomando como base empírica os tratamentos propostos ao fenômeno da negação em várias línguas. Propomos que há correlação entre proposições ou entidades concebidas nos dois quadros teóricos, mas que essas correlações não são de valor nomológico, o que desfavorece a unificação dos dois campos teóricos e reforça a concepção de autonomia teórica do quadro da gramaticalização.

O fundamento lógico do normativismo da gramática grega e sua relação com a ausência da inovação e mudança linguísticas como objeto de estudo teórico

“…Se considerarmos que o trabalho científico, como tarefa originária na concepção grega, é a busca do(s) princípio(s) que tenha(m) valor nomológico ou causal em relação a determinado fenômeno ou estado de fatos, uma das questões fundamentais é porque a língua muda, ou, nos termos de Vitral (2021), a que se deve a inovação observada nas línguas? Argumentamos, em Vitral (2021), que ainda estamos distantes de conseguir elaborar os princípios que expliquem a inovação linguística. É bem verdade, por outro lado, que a teoria sociolinguística, elaborada a partir de Weinreich, Labov e Herzog (1968) que estabeleceu o cotejo entre categorias sociais e a variação e mudança linguísticas, permitiu a disponibilização de uma metodologia descritiva bastante refinada, com recursos quantificacionais, que permitem certa objetividade nas análises propostas.…”

“…Como é sabido, a intencionalidade é tida como a marca do mental como propõe Brentano (1995Brentano ( [1874), ou seja, a formulação de uma intenção estabelece uma representação mental. Consideramos assim, em Vitral (2021), que a interação verbal implica que o ouvinte elabora, constantemente, inferências acerca das intenções e das ações do falante, o que ele deseja obter, suas crenças, seus receios etc., ou seja, a interação verbal inclui, como se sabe, conteúdos que estão além da simples função fática, informativa.…”

“…O papel e o enquadramento da intencionalidade na teoria linguística são bastante complexos, implicando, como acabamos de ver, o conceito de subjetividade e suas manifestações na forma dos enunciados. Em Vitral (2012Vitral ( , 2015Vitral ( , 2021, desenvolvemos um tratamento para essas propriedades, com realce nas propriedades do mecanismo subjacente à inovação linguística, tomando por base as noções de subjetifica-ção/intersubjetificação (Stein;Wright, 1995;Dasher, 2005;Davidse;Vandelanotte;Cuyckens, 2010) e de luta por reconhecimento (Honeth, 2003). As propriedades inerentes da interação linguística podem ser deduzidas assim do encontro de duas subjetividades.…”

“…Em resumo, ao inovar, o falante manifesta suas intenções que pretendem garantir seu reconhecimento como sujeito. Não há espaço aqui para expor, com detalhes, esse conjunto de hipóteses que acabamos de comentar (o que pode ser consultado em Vitral, 2012Vitral, , 2015Vitral, , 2021, mas o que pudemos dizer aponta para o papel da fundamentação da intencionalidade no fenômeno da inovação linguística.…”

“…Chomsky (2000), por exemplo, avalia como inexequível o tratamento naturalista do fenômeno da intencionalidade, o que para ele significa que o fenômeno da mudança linguística não pode receber um tratamento nos moldes objetivistas que caracteriza as ciências da natureza. Encerramos por aqui nossa discussão, afirmando que, na minha visão, pelo contrário, a inovação e a mudança linguísticas, embora não possam ser implementadas pela eleição de um objeto de estudo de tipo fisicalista, admitem sim um tratamento objetivo, ainda a ser desenvolvido, que estabeleça seus princípios determinantes (Vitral, 2012(Vitral, , 2015(Vitral, , 2021.…”