A doença de Graves é uma doença autoimune e a principal causa de hipertiroidismo, com grande infl uência multissistémica. O nosso objetivo foi avaliar as inter-relações entre fatores de risco cardiovascular, autoimunidade e insulinorresistência na doença de Graves. Métodos: Avaliamos a T3L, T4L, TSH, anticorpos antirrecetor TSH (TRAb), anticorpos antitiroglobulina e antitiroperoxidase, volume tiroideu (VT), IMC, glicose, HbA1c, HOMA-IR (homeostatic model assessment for insulin resistance), colesterol total, HDL e LDL colesterol, triglicerídeos, apoB, apoA1, lipoproteína (a), proteína C reativa, ácido fólico e vitamina B12 em 85 doentes com doença de Graves, defi nida por valores de TSH<0,35 μUI/mL, T3L>3,71 pg/mL e/ ou T4L>1,48 ng/ dL e TRAb>1,8 U/L. Os doentes foram divididos em subgrupos de acordo a terapêutica realizada: compararam-se os doentes submetidos a terapêuticas defi nitivas [cirurgia (27,1%) versus iodo 131 (10,5%)] e doentes tratados com antitiroideus [em remissão (42,4%) versus em tratamento atual com antitiroideus (20%)]; e de acordo com o perfi l de autoimunidade [TRAb positivos (9,4%) ou TRAb negativos (81,2%)]. Numa segunda abordagem, classifi cou-se a amostra em doença ativa [com TRAb positivos e/ou tratamento atual com antitiroideus (27,1%)] e sem doença ativa [com TRAb negativos e sem tratamento atual com antitiroideus, podendo previamente ter sido submetidos a cirurgia ou iodo 131 (64,7%)].Para a análise estatística foram realizados testes-t, testes de Mann-Whitney e correlações de Pearson. Resultados: A média de idade da população estudada foi 52,9±13,0 anos com 89,4% doentes do sexo feminino. O subgrupo TRAb positivo apresentou uma correlação positiva entre os níveis de TSH e PCR (r=0,8;p=0,010). Comparativamente ao subgrupo em remissão, no grupo em tratamento com antitiroideus verifi cou-se um VT superior (20,7±9,9 vs 15,4±7,7mL;p=0,048), bem como os níveis de tiroglobulina [45,9 (18,4-59,4) vs 7,5 (1,3-16,2) ng/mL; p=0,001] e menores níveis de TSH [0,7 (0,4-1,4) vs 2,7 (1,1-2,9) μUI/mL; p=0,002]. No grupo em tratamento com antitiroideus verifi cou-se uma correlação positiva entre o VT e a apoB (r=0,9;p=0,034) e entre a TSH e PCR (r=0,6;p=0,034). O VT e a HbA1c correlacionaram-se positivamente no subgrupo em remissão (r=0,4;p=0,023). Conclusão: As inter-relações encontradas entre autoimunidade, insulinorresistência, infl amação e perfi l lipídico poderão contribuir para o risco cardiovascular na doença de Graves.