Este texto parte de inquietações em torno da prática filosófica com crianças e da escuta que ocorre em algumas comunidades de investigação filosófica (Sharp, 1987; Mendonça & Carvalho, 2018) em contexto escolar. Pensamos nas certezas com que nos movemos nestes espaços e como momentos imprevisíveis podem interromper esses caminhos (aparentemente) seguros, possibilitando novas formas de educar. Esses “momentos críticos” (Haynes & Murris, 2012) surgem a partir da escuta das vozes de crianças e transformam a forma como o educador-investigador-facilitador se conduz na escola e nas reflexões que faz a partir dessas práticas. Desta forma, a pergunta da Inês abre a presente escrita. Partiremos também de diálogos com alguns autores, como seja Jean-Luc Nancy, que nos traz importantes ideias acerca da escuta, e Michael Apple, que nos remete que as escolas podem atuar como mantenedoras de uma situação hegemônica por meio da transmissão de valores e tendências culturais econômicas ao contexto escolar. Seguimos pela importância e reflexão crítica sobre a escuta das vozes das crianças, até nos perguntarmos se a escola escuta e quais vozes são consideradas nessa escuta Além disso, em diálogo com hooks, Freire, Haynes, Murris e Carvalho, propomos pensar a escola também como um espaço político e, sendo assim, como os exercícios e vivências da escuta ali experienciados podem constituir práticas democráticas. Compartilhamos como exemplo duas vivências que buscam escutar as vozes das crianças na sala de aula (uma em um jardim de infância e outra em um projeto escolar). A partir dessas vivências, perpassamos juntamente com Walter Kohan pelos enlaces marginais entre escuta, escola e filosofia. Terminamos referindo que o percurso desta escrita nos conduziu a considerar que a escuta, quando pensada criticamente, pode contribuir para comunidades de investigação filosófica cada vez mais atentas e cuidadosas com a dimensão política das contribuições e falas das crianças.
palavras-chave: filosofia para/com crianças, escuta, comunidade de investigação filosófica, escola, educação
summary
This text is based on concerns about the philosophical practice with children and the listening that occurs in some community of philosophical inquiry (Sharp, 1987; Mendonça & Carvalho, 2018) in a school context. We think about the certainties with which we move in these spaces and how unpredictable moments can interrupt these (apparently) safe paths, enabling new ways of educating. These “critical moments” (Haynes & Murris, 2012) arise from listening to the voices of children and transform the way in which the educator-researcher-facilitator conducts himself at school and in the reflections he makes based on these practices. In this way, Inês's question opens the present writing. We will also start with dialogues with some authors, such as Jean-Luc Nancy, who brings us important ideas about listening, and Michael Apple, who reminds us that schools can act as maintainers of a hegemonic situation through the transmission of values and trends cultural economics to the school context. We continue with the importance and critical reflection on listening to children's voices, until we ask ourselves if the school listens and which voices are considered in this listening. a political space and, therefore, how the exercises and experiences of listening experienced there can constitute democratic practices. We share, as an example, two experiences that seek to listen to the voices of children in the classroom (one in a kindergarten and the other in a school project). Based on these experiences, together with Walter Kohan, we explore the marginal links between listening, school and philosophy. We end by referring that the course of this writing led us to consider that listening, when thought critically, can contribute to philosophical research communities that are increasingly attentive and careful with the political dimension of children's contributions and speeches.
keywords: philosophy for/with children, listening, community of philosophical inquiry, school, education
resumen
Este texto se basa en preocupaciones sobre la práctica filosófica con niños y la escucha que ocurre en algunas comunidades de investigación filosófica (Sharp, 1987; Mendonça & Carvalho, 2018) en un contexto escolar. Pensamos en las certezas con las que nos movemos en estos espacios y cómo momentos impredecibles pueden interrumpir estos caminos (aparentemente) seguros, posibilitando nuevas formas de educar. Estos “momentos críticos” (Haynes & Murris, 2012) surgen de la escucha de las voces de los niños y niñas y transforman la forma en que el educador-investigador-facilitador se conduce en la escuela y en las reflexiones que realiza a partir de estas prácticas. De esta forma, la pregunta de Inês abre el presente escrito. También comenzaremos con diálogos con algunos autores, como Jean-Luc Nancy, quien nos trae ideas importantes sobre la escucha, y Michael Apple, quien nos recuerda que las escuelas pueden actuar como mantenedoras de una situación hegemónica a través de la transmisión de valores y tendencias de la economía cultural al contexto escolar. Continuamos con la importancia y la reflexión crítica sobre la escucha de las voces de los niños, hasta preguntarnos si la escuela escucha y qué voces son consideradas en esa escucha de un espacio político y, por tanto, cómo los ejercicios y experiencias de escucha que allí se viven pueden constituirse democráticos. practicas Como ejemplo, compartimos dos experiencias que buscan escuchar las voces de los niños en el aula (una en un jardín de infantes y la otra en un proyecto escolar). A partir de estas experiencias exploramos, junto a Walter Kohan, los vínculos marginales entre escucha, escuela y filosofía. Finalizamos refiriendo que el transcurso de este escrito nos llevó a considerar que la escucha, cuando se piensa críticamente, puede contribuir a comunidades de investigación filosófica cada vez más atentas y cuidadosas con la dimensión política de los aportes y discursos infantiles.
palabras clave: filosofía para/con niños, escucha, comunidad de indagación filosófica, escuela, educación
[1] Email: ricardolinofrias@gmail.com. Mestre em Filosofia para Crianças, pela universidade dos Açores (2022); Educador de Infância na rede pública em Portugal; investigador do NICA-UAc: Núcleo Interdisciplinar da Criança e do Adolescente. https://orcid.org/0000-0003-3610-6416
[2] Email: daylanesoares@gmail.com. Mestra em Filosofia para Crianças - Universidade dos Açores / Portugal. (2022) Atualmente é professora efetiva - Secretaria de Educação do DF/Brasil. Membro do NICA: Núcleo Interdisciplinar da Criança e do Adolescente, da Universidade dos Açores e investigadora do projeto escuto.te: vozes das infâncias entre a filosofia e a política, da responsabilidade do NICA: Núcleo Interdisciplinar da Criança e do Adolescente, da Universidade dos Açore, financiado pelo Governo dos Açores. https://orcid.org/0000-0002-2795-5793
[3] Email: nalis.carvalho@gmai.com Mestranda em Filosofia para Crianças da Universidade dos Açores / Portugal. Membro do NICA: Núcleo Interdisciplinar da Criança e do Adolescente, da Universidade dos Açores e investigadora do projeto escuto.te: vozes das infâncias entre a filosofia e a política, da responsabilidade do NICA, financiado pelo Governo dos Açores.orcid.https://org/0000-0002-9098-7157