Doaldo Ferreira BelémResumo O crescente interesse pelo "Cristianismo pentecostalizado" e a ênfase colocada pelo movimento nos fenômenos espirituais como base da fé cristã convida à busca pelas raízes de tal tradição na História da Igreja. Não obstante Martinho Lutero, o pai da Reforma Protestante, do qual o pentecostalismo se julga herdeiro, pode parecer, a princípio, um parceiro de diálogo improvável para os pentecostais: no luteranismo tem havido uma recepção funesta, unilateral do Lutero anti-Müntzer e os entusiastas, provocando consequentemente um "estranhamento" do luteranismo ao pentecostalismo. Portanto, A. Asumang faz uma pergunta desafiadora: após mais de meio milênio da deflagração da Reforma Protestante, concordaria Lutero com a prática pentecostal do hodierno? Este artigo objetiva buscar uma resposta a essa indagação. Desta forma, após considerações históricas preliminares acerca das relações entre o pentecostalismo e Lutero, serão abordadas questões de continuidade, descontinuidade e tensões entre ambos. Conclui-se que, se por um lado não é necessário ver de forma anacrônica Martinho Lutero como um "proto-pentecostal", por outro o reformador pode ser compreendido como um cristão com "afinidades pentecostais" -e os pentecostais como seus "bisnetos."