“…Nesse subgênero destacaram-se, entre outros, o Caderno de memórias coloniais (2009), de Isabela Figueiredo, pela polêmica 6 , e O retorno (2011), de Dulce Maria Cardoso, pelo estatuto de best-seller. Estas duas autoras regressaram a Portugal ainda crianças por altura da descolonização e alicerçaram com os seus livros uma memória traumática de medo, de violência, de despossessão e de perda, como forma de renegociação de uma identidade portuguesa de um grupo de retornados que, logo após o 25 de Abril de 1974, fora hostilizado, criando um corpus de literatura no feminino em que firmaram a sua voz autoral, contribuindo para a problematização de temas ligados à sexualidade e ao patriarcado no contexto da memória colonial literária, movendo o enfoque da sexualidade masculina e patriarcal para a subjetividade feminina e as suas vivências coloniais, como explica Garraio (2019Garraio ( , p. 1567. O romance de Figueiredo desestabilizou particularmente "os tropos mais comuns da narrativa quotidiana dos retornados" (PERALTA, 2011, p. 12), ao trocar a noção de um paraíso perdido por um relato virulento da experiência colonial.…”