Favelei: Antropofagia e hibridação no caso da funkeira MC Véia

Abstract

Desenvolve projeto de pesquisa em Narrativas Midiáticas, apoiado pela Fapesp Resumo: Este artigo discute o fenômeno midiático "MC Véia", que se transformou a partir do funk carioca. Utilizamos conceitos que revelam os processos de antropofagia, com Oswald de Andrade, e hibridação cultural, com Néstor Canclini. Martín-Barbero e Herschmann são fundamentais para a discussão sobre identidade híbrida. Leda Maria Soares Ferreira, a "MC Véia", teve uma história de vida marcada por perdas de afeto e de identidade. Do medo à inserção, aceitação e incorporação da diferença, MC Véia mescla identidades, gerando referências inusitadas ou híbridas, e declara ter se "favelado". Como metodologia, utilizamos a pesquisa bibliográfica e exploratória, a avaliação de matérias em revistas e sites, entrevistas cedidas por Leda Maria à mídia e análise da página de MC Véia no Facebook. Palavras-chave: comunicação e cultura, antropofagia, funk.

Alteridade e Antropofagia na Música da Funkeira MC Véia: Um Processo Folkcomunicacional

“…Cabe ressaltar que essa modificação da manifestação cultural estadunidense pode ser entendida como o processo de hibridação, conceituado por Canclini (2008), como a união de práticas sociais distintas que, quando postas em contato, acabam por gerar novos elementos ou expressões culturais, como já apontamos anteriormente (SILVA e POSTALI, 2015). Segundo Canclini, sobre os processos de hibridação: (2008, p. 22), "isso ocorre de modo não planejado ou é resultado imprevisto de processos migratórios, turísticos e de intercâmbio econômico ou comunicacional.…”

“…O conceito de antropofagia acolhe um diagnóstico e um prognóstico da cultura, das artes e, em uma perspectiva de compreensão aprofundada, ao modo de ser do brasileiro, pois prevê a seleção e digestão das referências alheias, para transformá-las, em um processo não apenas crítico, mas, sobretudo, autocrítico. Portanto, trata-se de um exercício de alteridade, pois para se devorar o alheio é necessário, antes de tudo, deixar-se devorar (SILVA e POSTALI, 2015). Não há antropofagia no simples convívio ou na tolerância entre os diferentes.…”

“…O funk brasileiro ou funk carioca, como é chamado no país, está entre as expressões populares mais evidenciadas nos últimos anos, por ter alcançado a visibilidade dos principais veículos de comunicação brasileiros. Entretanto, sua história envolve críticas negativas, de distintos segmentos sociais, sobretudo quanto ao seu conteúdo relacionado, principalmente, ao sexo (SILVA e POSTALI, 2015).…”

“…Não se trata aqui de apresentar o funk como dissociado dessas práticas, porém, é importante lembrar que a mídia constitui "um dos principais cenários do debate contemporâneo; é através dela, de modo geral, que se adquire visibilidade e que se constroem os sentidos de grande parte das práticas culturais" (HERSCHMANN, 2000, p. 88). Como mediadora das narrativas do cotidiano, a mídia pode incitar, portanto, à reflexão, à crítica e à identificação, bem como naturalizar clichês e preconceitos (SILVA e POSTALI, 2015).…”

“…Entretanto, é possível perceber a reprovação dessa vertente por parte destes jovens das favelas e subúrbios. Isso se dá, talvez, pelo fato de ele ter deixado de dialogar com estes grupos, passando a incorporar atitudes, objetos e situações distantes de sua realidade social (SILVA e POSTALI, 2015). Neste sentido, cabe questionar o papel da mídia no diálogo e na representação da diversidade e da alteridade.…”