Na sequência da revolução de 25 de Abril de 1974, uma aldeia do concelho de Belmonte foi palco, durante seis anos, de um conflito que opôs um grupo de proprietários minifundiários e parte da comunidade a uma empresa mineira. Neste artigo, resultado de um estudo histórico-antropológico apoiado em trabalho etnográfico e pesquisa em arquivos, revisita-se esse conflito socioambiental, percorrendo o processo de mobilização coletiva local e as interações entre os atores locais e externos. Os motivos que impulsionaram a mobilização coletiva contra a mineração são examinados no enquadramento da transformação política estrutural do pós-25 de Abril. Na análise é equacionado o papel que a experiência e memória da destruição ambiental passada tiveram, sobretudo, na produção de repertórios e vocabulários de protesto. Observar o conflito da aldeia Gaia através da revolução permite olhar para o processo revolucionário a partir de uma escala microssociológica, mostrando os processos de transformação política do pós-25 de Abril e o papel da participação popular na democratização do país, assim como as disputas institucionais pelo controlo do Estado e as lutas em torno da implementação de diferentes modelos e políticas de desenvolvimento.