A narração é uma das formas discursivas privilegiadas de significação da experiência, principalmente quando algo inesperado acontece na vida do sujeito e rompe com o seu cotidiano. Partindo do princípio da inevitável articulação entre composição narrativa e transmissão da experiência, defende-se que a narração se torna um dispositivo metodológico e analítico que permite ao sujeito a construção de uma história de si e o desencadeamento de um processo formativo experiencial que se dá em ato. Nessa direção, a fim de demonstrar as premissas, recorreu-se a um estudo com mulheres vítimas de queimaduras de terceiro grau. As narrativas configuradas pelas participantes no enlace com o sujeito pesquisador, tendo a vivência dolorosa como marcador temporal, propiciaram (re)configurações de si em que as marcas corporais decorrentes da queimadura foram incorporadas às suas trajetórias de vida, pois foi possível colocar em palavras o vivido e refletir sobre ele. Dessa forma, conclui-se que a construção de espaços investigativos que propiciem a composição narrativa é essencial para a elaboração de uma vivência traumática a partir do compartilhamento da experiência com o sujeito pesquisador, se tornando assim fonte de aprendizados mútuos.