Existe na agricultura brasileira um setor que corresponde ao "family farming" americano?

Abstract

Resumo: Neste artigo procura-se mostrar a heterogeneidade da agricultura brasileira, que está composta por um segmento altamente produtivo e eficiente, de tipo patronal empresarial; um segmento também eficiente e rentável, de tipo familiar empresarial; e um segmento de agricultores familiares pobres ou camponeses que produz para autoconsumo, mora no estabelecimento, gera emprego para os filhos, e que não migra porque seu custo de oportunidade para migrar é baixo. A inexistência de economias de escala na agricultura, a baixa lucratividade da atividade em função da baixa rotatividade do capital fixo, o ambiente concorrencial do mercado agrícola e os riscos que atingem a atividade (clima, pragas e preços) fazem com que não haja interesse em monopolizá-lo por um setor único de produtores, o que abre espaço, portanto, para a coexistência entre setores heterogêneos do meio rural, cada um com sua própria lógica e seus próprios interesses e reivindicações. Palavras-chaves:

Development Conditions for Family Farming: Lessons From Brazil

“…Doubtlessly, as impressively shown by the strong concentration of credits (Figure 1.4), it has been primarily the farmers in the South that benefited from the current standardized policy framework because they are considered to best fit in the model. While the governmental development proposal for farmers in the South with potential for modernization seems clear, it is not the case for the majority of farmers which cannot or do not want to follow this pathway (Guanziroli & Di Sabbato, 2014). Studies in the North, for example, reveal the challenges faced by traditional communities for having their agricultural practices acknowledged and supported by the government, left with the option of either leaving the countryside or to remain but living in growing poverty (Medina & Barbosa, 2015).…”

“…However, recent studies highlight that the agricultural policies need to consider, more consciously, the high heterogeneity among family farmers, with contrasting performances, capacities, and productive vocation (Guanziroli & Di Sabbato, 2014;Sober, 2014). According to Alves and Rocha (2010) less than 10% of the farmers in Brazil play a significant role in agricultural production, while the vast majority has a very limited income from agricultural production (Alves & Rocha, 2010).…”

“…Food produced on family farms in Brazil account for 36% of the national food production (Guanziroli & Di Sabbato, 2014) and supplies market chains generating one third of the agricultural and food sector's GDP (Guilhoto et al, 2007). Moreover, Brazil constitutes an insightful case because of the dense academic debate on the issue of the potential for development of family farming (Section 2), the availability of a comprehensive agricultural census data, the existence of legal definitions of family farming and ongoing government-led efforts to support family farming (França, Del Grossi, & Marques, 2009).…”

Percepção de pequenos e médios produtores rurais sobre a tecnologia Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF) no município de Ipameri - GO

“…Esta última, conforme o autor, é representada pelo grupo de agricultores familiares e assentados pelo processo de reforma agrária (ALMEIDA, 2008). Guanziroli et al (2014) destacam, na heterogeneidade da agricultura brasileira, três distintos perfis. O primeiro é representado por um segmento bastante eficiente, produtivo (patronal empresarial); o segundo, também eficiente e rentável é representado pela agricultura familiar empresarial; finalmente aquele representado por agricultores que produzem para subsistência, morando nas propriedades rurais, que geram emprego para os filhos.…”

“…A inexistência de economias de escala constantes na agricultura, a baixa lucratividade de atividade em função da baixa rotatividade do capital fixo, o ambiente concorrencial do mercado agrícola e os riscos que atingem a atividade em função de clima, pragas e preços, fazem com que não haja interesse em monopolizá-lo por um setor único de produtores, o que abre espaço, portanto, para a coexistência entre setores heterogêneos do meio rural, cada um com sua própria lógica e seus próprios interesses e reivindicações (GUANZIROLI et al, 2014, pp. S101-S102).…”