ETNOECOLOGIA DO CAMBUCI (Campomanesia phaea (O. Berg) LANDRUM) PELA POPULAÇÃO DE PARANAPIACABA, SUDESTE DO BRASIL

Abstract

RESUMO:A relação do homem com a natureza é tão antiga quanto a sua própria história. No entanto a biodiversidade tem sido ameaçada pelas atividades humanas. Assim, o presente trabalho se propôs a conhecer a relação de uma população humana urbana com uma espécie arbórea, conhecida como cambuci (Campomanesia phaea (O. Berg) Landrum), bastante utilizada para diferentes fins e de relevante interesse ecológico, próximo a uma área de conservação na Mata Atlântica, Sudeste do Brasil. Para isso, foi analisada a população da vila de Paranapiacaba, cidade de Santo André, SP, a qual mantém relação estreita com o cambuci. Foram realizadas 50 entrevistas com moradores e comerciantes locais que concordaram em participar, utilizando-se do método bola de neve e de conversas informais. Foram levantados na entrevista os diversos usos e aplicações do fruto de cambuci, bem como outros aspectos relacionados à ecologia da planta. Os entrevistados demonstraram conhecimento sobre os visitantes florais da C. phea e prováveis dispersores de seus frutos. Em relação ao plantio de mudas, os dados indicam que a comunidade humana promove o plantio da espécie uma vez que a utiliza como recurso para diversos fins e produz mudas por meio de sementes e brotos retirados da mata. Um dos principais usos do cambuci pelos moradores de Paranapiacaba foi o de alimento, sendo o fruto encontrado em diversas formas como como geleias, licores, cachaça, mousse, sorvete, bolo, além do tradicional suco na região.

A importância dos saberes etnobotânicos para a construção de agroecossistemas sustentáveis: o exemplo do cambuci (Campomanesia phaea)

“…Endêmica do Brasil, do bioma Mata Atlântica e de vegetação de floresta ombrófila ou pluvial, é encontrada no litoral brasileiro, na região sudeste, em Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo (Kinupp;Lorenzi, 2014;Oliveira et al, 2023). Cultivada, principalmente, na região sudeste, em pomares e quintais, sistemas agroflorestais, parques e jardins, em áreas rurais ou urbanas, para a produção e consumo dos frutos, o cambuci propriamente dito (Maluf;Pisciottano-Ereio, 2005;Lunelli et al, 2016;Campanini et al, 2017).…”

“…Não existem variedades comerciais, mas devido as suas propriedades e benefícios, já geram lucros para a agricultura familiar, pequenos produtores e comerciantes locais. Apresentam potenciais para a indústria alimentícia, de fármacos e de cosméticos (Andrade et al, 2011;Campanini et al, 2017;Tokairin et al, 2018a;Ronchi, 2021).…”

“…Seus frutos podem ser congelados ou usados recém-colhidos, utilizando a polpa para diversas receitas culinárias (Souza et al, 2016), tido como um alimento, bom, limpo e justo (Schneider, 2015). Planta que é conhecida e utilizada, dentre outras, em comunidades tradicionais ou locais, ou seja, por quilombolas, agricultores, moradores rurais e comerciantes locais (Santos, 2013;Lunelli et al, 2016;Campanini et al, 2017;Souza et al, 2018;Sauini, 2019). As árvores do cambucizeiro para a obtenção dos frutos para os usos etnobotânicos são encontradas, principalmente, no bioma Mata Atlântica, na região sudeste, no estado de São Paulo (Hanazaki et al, 2006;Lunelli et al, 2016;Souza et al, 2018).…”

“…As árvores do cambucizeiro para a obtenção dos frutos para os usos etnobotânicos são encontradas, principalmente, no bioma Mata Atlântica, na região sudeste, no estado de São Paulo (Hanazaki et al, 2006;Lunelli et al, 2016;Souza et al, 2018). Localizadas em área de borda de parque (Hanazaki et al, 2006), em sistemas agroflorestais e ecovilas (Devide et al, 2014;Lunelli et al, 2016;Oliveira, 2016;Souza et al, 2016), em quintais de propriedades urbanas ou rurais (Campanini et al, 2017;Villaça;Magenta, 2017), entre outras. Além de seus frutos serem muito utilizados de forma alimentar, caracterizando uma rica fonte nutricional, verificam-se seus usos para fins medicinais (Figura 1 e Tabelas 3 e 4), com o uso ainda de outras estruturas da planta para esta finalidade.…”

“…Do fruto se faz xarope, podendo ser misturado com mel ou açúcar, e a casca do fruto serve para fazer chá (Ronchi, 2021). Há relatos também do uso da folha e da casca do fruto para a dor de garganta (Campanini et al, 2017). Por ser uma espécie rica em compostos bioativos (Tabela 3), tem potencial também para o uso na indústria de fármacos e cosméticos (Ronchi, 2021).…”