Estilos de Pensamento na Escolha da Especialidade Médica e Sua Correlação com as Políticas de Provimento para a Atenção Básica à Saúde - Um Estudo de Caso

Abstract

RESUMO A publicação das Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Medicina, em 2001, iniciou um processo de mudança nos cursos de Medicina, buscando atender às necessidades do Sistema Único de Saúde no que diz respeito à formação para a atenção básica. Uma das maiores dificuldades encontradas para a consolidação da atenção básica reside na na carência de profissionais em quantidade e qualidade. Nesse contexto, o objetivo desta pesquisa, de cunho qualitativo, foi identificar os aspectos que envolvem a escolha da especialidade médica em alunos egressos da Universidade do Vale do Itajaí (Univali) que tiveram participação efetiva durante a graduação em projetos na atenção básica. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas semiestruturadas, e a análise de dados foi executada por meio da categoria Estilo de Pensamento, desenvolvida por Ludwik Fleck. Os resultados demonstraram a hegemonia de um estilo de pensamento com características voltadas para a especialidade focal e com visão mercantil sobre a profissão, porém com visão ampliada para abordagem dos problemas, denominado, dessa forma, Estilo de Pensamento Flexneriano Ampliado. De modo contrahegemônico, também foi identificado um estilo de pensamento voltado à prática generalista integral, com caráter eminentemente público, aqui chamado de Estilo de Pensamento da Atenção Básica. A hegemonia do Estilo de Pensamento Flexneriano foi justificada especialmente pela força dos acoplamentos neoliberais, corroborados também pela estrutura curricular majoritariamente flexneriana. As complicações vivenciadas por alguns entrevistados no trabalho de atenção básica também foram consideradas impedimentos importantes que dificultam a consolidação do Estilo de Pensamento da Atenção Básica e, consequentemente, sua escolha como campo de trabalho. Os tráfegos intercoletivos também apresentaram importância no processo de escolha da especialidade médica, porém ainda hierarquizados pelos acoplamentos. Em que pesem estas escolhas, a aproximação com a atenção básica demonstrou ser bastante importante na construção da contra-hegemonia e na formação de matiz com visão ampliada do Estilo de Pensamento Flexneriano clássico, ambos importantes para a mudança do modelo de atenção.

Fatores que influenciam na escolha da especialidade médica na universidade do Estado do Pará campus-VIII

“…Mayeama et al (2018) 4 , afirma que há dois dilemas na educação médica que influenciam na escolha da especialidade: uma ideia voltada para a atenção básica e de forma generalista, outra focada para a medicina especializada, específica e mercantil, nos quais dependendo das experiências do estudante nestes dois modelos de aprendizado, ele Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.6, p. 29277-nov./dec. 2021 opta por seguir uma das vertentes quando seleciona sua especialidade.…”

“…Entretanto, nos últimos anos, muitos adeptos do pensamento medicina específica e mercantilista vêm incorporando em seus preceitos, ensinamentos sobre relação médico paciente, princípios do SUS e visão holística do paciente, resultando em um novo tipo de pensamento e estilo de vida médica 4 .…”

“…Tais fatores também podem explicar as escolhas das Turmas C e D.Ainda sobre esta evidência, as turmas A e B possuem as maiores taxas de pessoas que ainda não escolheram sua especialidade médica, podendo ser justificado pelas suas experiências dentro da vida acadêmica, os quais fizeram mudar de ideia a partir de alguma frustração, ou por ter diversas afinidades com mais de uma área, destacando que estas são as turmas com mais tempo decorrido dentro da universidade. Já Sousa (2013)8 afere em sua casuística que o número de discentes que já escolheram sua área é maior nos últimos anos letivos, com a justificativa de que estão mais próximos de adentrar o mercado de trabalho e prestar provas para os programas de residência.Em relação ao estudo com Mayeama (2018)4 , esta pesquisa converge no momento em que muitos dos entrevistados optaram por áreas mais específicas, voltado para uma prática mercantilista e individualista, embora estes mesmos entrevistados tenham em seu corpo de aprendizado os métodos do PBL e a visão mais holística do paciente, apresentando uma mescla dessas duas filosofias, conforme já abordado por Costa (2014)2 . Já Berithe (2015) 6 reitera em seu monólogo que no Brasil muitos médicos recémformados perduram pouco tempo nos programas de atenção básica a saúde, pois afirma que há uma extensa carga horária de trabalho, carência de infraestrutura e segurança, além de não ter um plano de carreira satisfatório.Conforme este estudo, apenas 1 entrevistado dentre os 68 afirmou como escolha da área médica Programa Saúde da Família e Comunidade, corroborando as informações de Costa (2014) 2 , Berithe (2015) 6 , Sousa (2013) 8 e Mayeama (2018)4 .…”

“…Já Sousa (2013)8 afere em sua casuística que o número de discentes que já escolheram sua área é maior nos últimos anos letivos, com a justificativa de que estão mais próximos de adentrar o mercado de trabalho e prestar provas para os programas de residência.Em relação ao estudo com Mayeama (2018)4 , esta pesquisa converge no momento em que muitos dos entrevistados optaram por áreas mais específicas, voltado para uma prática mercantilista e individualista, embora estes mesmos entrevistados tenham em seu corpo de aprendizado os métodos do PBL e a visão mais holística do paciente, apresentando uma mescla dessas duas filosofias, conforme já abordado por Costa (2014)2 . Já Berithe (2015) 6 reitera em seu monólogo que no Brasil muitos médicos recémformados perduram pouco tempo nos programas de atenção básica a saúde, pois afirma que há uma extensa carga horária de trabalho, carência de infraestrutura e segurança, além de não ter um plano de carreira satisfatório.Conforme este estudo, apenas 1 entrevistado dentre os 68 afirmou como escolha da área médica Programa Saúde da Família e Comunidade, corroborando as informações de Costa (2014) 2 , Berithe (2015) 6 , Sousa (2013) 8 e Mayeama (2018)4 . Ainda de acordo com Berithe (2015) 6 , não há necessidade única de cumprir um programa de residência para exercer uma especialidade médica no Brasil, onde tal prática pode ser exercida conforme títulos lecionados pelas Sociedades Médicas vigentes, que também é um fator que merece atenção, pois influencia no tempo investido na formação profissional e consequentemente na escolha.Um dos pilares deste estudo compreende em comparar os fatores determinantes na escolha da especialidade médica entre os alunos das turmas A, B, C e D. Diante das justificativas pautadas pela pesquisa, predispõe que o grande e principal fator na escolha da especialidade médica é a afinidade do discente com a área, sendo muito mais importante que qualidade de vida, retorno financeiro e status.…”

A especialização na formação médica: uma antítese conceitual à interdisciplinaridade?

“…From this perspective, the 'Flexnerian Paradigm' would look at the human body from a mechanistic and reductionist point of view, considering it a set of interconnected 'parts' -much like 'parts' of a 'machine' requiring regular evaluations by specialists (8). Consequently, this type of thinking would favor technical and scientific rationality over the holistic view of the human being, valuing the hospital setting and medical 'hyperspecialization' 2,6,7,9,10 .…”