Estado nutricional, condições socioeconômicas, ambientais e de saúde de crianças moradoras em cortiços e favela

Abstract

OBJETIVO: Comparar a freqüência da desnutrição entre crianças de 6 meses a 6 anos, moradoras em cortiços e favela, da região central de São Paulo e caracterizar as diferenças das condições socioeconômicas, ambientais e de saúde dos dois grupos. MÉTODOS: Realizou-se estudo transversal com 86 crianças moradoras em cortiços e 84 crianças residentes na favela e respectivas famílias. Classificou-se a desnutrição segundo os índices estatura/idade, peso/idade e peso/estatura, ponto de corte <-1 e <-2 escore-Z, comparados ao padrão National Center for Health Statistics. Os dados socioeconômicos, ambientais e de saúde foram coletados com a aplicação de um questionário durante as visitas domiciliares. Para analisar os dados utilizaram-se o teste do qui-quadrado e o teste t de Student ou o teste Mann-Whitney com nível de significância 5%. RESULTADOS: A proporção da desnutrição leve foi duas vezes maior nas crianças moradoras em favela em relação às residentes nos cortiços e quatro vezes maior para desnutrição moderada. Com relação às variáveis pesquisadas, as famílias moradoras em favela apresentaram piores condições quanto a: renda, despesas com alimentação, trabalho, condições de moradia e saneamento (p<0,001). Quanto às condições de saúde observou-se maior ocorrência de diarréia (p=0,003) e menor cobertura vacinal (p<0,001) entre as crianças moradoras em favela. CONCLUSÃO: A freqüência da desnutrição nas crianças da favela estudada foi maior do que a encontrada nos cortiços e as famílias moradoras na favela foram consideradas extremamente pobres, com condições socioeconômicas e ambientais piores do que nos cortiços, evidenciando aspectos da pobreza urbana ligados à desnutrição infantil.

Malnutrition in school children in an urban-rural region of the extreme South of São Paulo city

“…Despite the improvement of nutritional conditions of children in Brazil, malnutrition has occurred in a very unequal manner, and the problem is even more serious in the poorest regions of the country, and in the pockets of poverty within the large cities (17) . In developing countries, it is estimated that the prevalence of malnutrition in children aged up to 60 months is 8% for weight-for-height, 32% for height/age, and 27% for weight-for-age (18) .…”

Possíveis causas de diarréia aguda em crianças de idade pré-escolar

“…Segundo esse alto índice decorre do peso relativo dos óbitos por diarréias, pneumonias e desnutrição, responsáveis pela maior parte das mortes infantis tardias (Szwarcwald et al, 1992). Diversos estudos têm mostrado uma associação entre a ocorrência de diarréia e a baixa renda das famílias, falta de água, lixo ambiental, fatores estes que estão presentes diariamente em regiões de periferias, favelas e cortiços (Santos, Martins & Sawaya, 2008). Algumas intercorrências infecciosas, principalmente diarréia e infecções respiratórias estão relacionadas à desnutrição, e quanto maior a frequência desses episódios, maior é a gravidade e maior o efeito sobre o estado nutricional da criança, tendo em vista que no Brasil quando não há recursos suficientes, para compra de alimentos nutritivos estes acabam não chegando até a mesa dos brasileiros menos favorecidos, o que consequentemente levam a um estado de desnutrição maior.…”

“É Assim, Com Vergonha De Sair Com Ele”: Percepções De Mães De Crianças Desnutridas, Em Um Meio Socialmente Desfavorecido

“…1 A desnutrição infantil é considerada atualmente um problema multifatorial. 3 Vale ressaltar aqui que este agravo não deve ser entendido apenas como uma doença orgânica, mas como fenômeno global, expressão de múltiplas dimensões, caracterizando uma série de situações e condições de vida desfavoráveis que atuam em um indivíduo e/ou coletividade. 4,5 A rigor, no fenômeno da desnutrição infantil interferem condições objetivas de pobreza e vulnerabilidade social, como também dimensões subjetivas da trajetória de vida da própria mãe e das relações que configuram o contexto sociofamiliar.…”