“…A população urbana mundial tem vindo a crescer acentuadamente desde meados do século XX e já ultrapassa de forma clara a população a viver em meios rurais, estimando-se que até 2050 a população rural global continuará a diminuir face aos valores de 2018, de 3.4 biliões para 3.1 biliões (United Nations, 2019). Esta tendência global de crescente urbanização começou por ser alvo de algumas manifestações contra-hegemónicas ao longo das décadas de 1960-70, em especial nos EUA e na Europa, através de um "neoruralismo protestário" (Merlo, 2006) ou back to the land movementque trouxe da cidade para o campo pessoas movidas por densas convicções ideológicas, procurando na ruralidade experiências e identidades radicalmente alternativas ao mainstream urbano (Chevalier, 1993;Escribano, Hummel, Molina, & Lubbers, 2020;Guimond & Simard, 2010;Kayser, 1990;Nogué i Font, 2012;Orria & Luise, 2017) . Nas últimas três décadas, sobretudo nos países ocidentais, os fluxos migratórios no quadro desta "counterurbanisation" (Champion, 1998) têm vindo a ganhar maior expressão e a contribuir, decisivamente, para a diversificação produtiva, a inovação socioeconómica e a emergência de novos estilos de vida e manifestações culturais nalguns contextos rurais, suscitando a complexificação de eventuais demarcações que ainda pudessem dar sustento à dicotomia campo-cidade (Ghose, 2004;Halfacree & Boyle, 1998;Halfacree, 1997;Herslund, 2012;Simard & Guimond, 2012).…”