Este trabalho tem por objetivo fazer uma história das ideias linguísticas nas relações internacionais do Estado brasileiro. Na constituição dessa história, espera-se dar visibilidade específica à categoria interpretativa "espaço de enunciação", sobretudo pela análise de um corpus constituído a partir do Arquivo Histórico e Diplomático do Itamaraty, com documentos do período entre 1930-1950, momentos em que a designação da língua oficial esteve no centro das discussões no Brasil. É nosso objetivo analisar as possíveis implicações que a polêmica quanto ao nome da língua do Brasil teria nas políticas de línguas no cenário internacional. Grosso modo, considera-se o cruzamento das discursividades sobre o nome da língua e sobre a expansão dessa língua como objeto de especial interesse para compreender como, historicamente, o Estado pôde constituir uma política de sua língua justamente quando a identidade dessa língua estava, então, se construindo. Dar visibilidade a esse impasse histórico abre terreno para uma leitura particular quanto aos meios e objetivos da "expansão do idioma", permitindo interpretar uma história de sentidos para a língua nacional do Brasil e uma história das políticas de língua enquanto políticas do Estado brasileiro nas relações internacionais. Os materiais de pesquisa são aqui tomados enquanto textos e analisados com base no quadro teóricometodológico do programa História das Ideias Linguísticas e da Semântica do Acontecimento. Nosso procedimento de análise de textos fundamenta-se em recortes dos materiais de pesquisa, recortes esses que respondem a dois interesses: de um lado, constituir uma história pelos sentidos que o texto tem sobre um objeto específico, a língua; de outro, marcar decisiva e explicitamente essa pesquisa e leitura do corpus enquanto prática política e, consequentemente, constituir uma história que, ao admitir seu caráter interpretativo, realça uma posição ética na pesquisa linguística. O interesse pela história das políticas de língua, na sua relação com o conceito de espaço de enunciação, e os dispositivos de análise do corpus posicionam este trabalho de modo especial entre os estudos da língua e da linguagem. Confiamos, porém, que o diálogo com as relações exteriores e com a própria história possa indicar também outros domínios disciplinares nos quais este trabalho venha potencialmente a se constituir enquanto objeto de interesse acadêmico.