Do abjeto ao não-enlutável: o problema da inteligibilidade na filosofia de Butler1

Abstract

Neste trabalho, o conceito de abjeto, tal como pensado por Judith Butler a partir da obra de Julia Kristeva, é analisado e aproximado da ideia butleriana de uma distinção existente entre vidas passíveis de enlutamento e vidas não-enlutáveis. Propomos uma compreensão do conceito de abjeto na obra dessas autoras, além de estabelecer uma relação entre a noção de abjeto e a ideia de impureza da antropóloga Mary Douglas. Entendemos que, na obra de Butler, existem aproximações possíveis entre as divisões entre sujeito e abjeto e entre enlutável e não enlutável. Sugerimos que a categoria da inteligibilidade é o operador teórico que atravessa esses dois momentos da obra de Butler. Compreendemos que, por mais que a ênfase da filósofa mude do gênero para a violência contra as vidas, seu interesse principal mantém-se em realizar uma crítica da norma que categoriza algumas vidas e corpos como válidos, enquanto outros pertencem a uma zona de ininteligibilidade, abjetos, cujas vidas não contam.

O Limite Do Cuidado: Relações Entre Estado E Família Na Desinternação De Pacientes De Manicômios Judiciários

“…Sendo assim, o "fazer Estado" (SOUZA LIMA, 2012, p. 561), no processo de desinternação de um paciente do HCTP, se confunde com o fazer parentesco (HARAWAY, 2015), na medida em que a família do assistido tem centralidade na política pública em saúde mental. A entrevista com profissionais que atuam para a desospitalização de internos e com familiares de desinternantes pode demonstrar o modo pelo qual o Estado opera as relações de parentesco que, por sua vez, têm a propriedade de incluir ou excluir uma vida da zona de inteligibilidade social (BUTLER, 2014;RODRIGUES;GRUMAN, 2021).…”

Queerizando o currículo cultural de Educação Física: apostando na produção de novos marcos de reconhecimento a partir das cenas didáticas

“…(BUTLER, 2019b, p. 191).A abjeção atravessa o campo da produção dos sujeitos -a ser discutida na cena do reconhecimento -, ou seja, como aquilo que é da ordem do ininteligível como resultado de dinâmicas normativas. Nascido no coração da norma, o movimento de abjeção produz o sujeito (inteligível), ao gerar a identificação impossível, forcluída, impensável, ininteligível (RODRIGUES;GRUMAN, 2021). Dissemos anteriormente que Butler problematiza o conceito de abjeção para pensar o modo como funciona em relação às categorias de gênero.…”