Este artigo está licenciado sob forma de uma licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional, que permite uso irrestrito, distribuição e reprodução em qualquer meio, desde que a publicação original seja corretamente citada. http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/deed.pt_BR http://dx.doi. org/10.15448/1984-7726.2016.4.23049 Negação da figura paterna e a fuga de Jéssica no Resumo: Este artigo discute a relação ambígua e dissimulada de Jéssica para com a figura paterna Shylock, no Mercador de Veneza. A fuga de Jéssica e a negação da figura paterna são perpassadas por espasmos de consciência e vergonha, sugerindo que ambas são traços sobredeterminantes da interioridade de Jéssica. A linguagem dos diálogos de Jéssica e Lorenzo sugere que seu amor é provavelmente insincero, pois Jéssica faz insistentemente perguntas duvidando de seu amor, que pode ser movido pela oportunidade de fugir de casa e tomar a fortuna de Shylock. Igualmente, o amor de Lorenzo por Jéssica é enfatizado por conotações carnais e eróticas durante a peça.
Palavras-chave: Consciência; Interioridade Negação da Figura Paterna; Mercador de VenezaAbstract: This essay discusses Jessica's ambiguous and deceitful relationship towards her paternal figure Shylock, in The Merchant of Venice. Jessica's elopement and negation of the paternal figure are pervaded by qualms of conscience and shame, suggesting that both are the over-determining traits of Jessica's inwardness. The language in Jessica and Lorenzo's dialogue suggests that their love is probably insincere, once Jessica constantly asks questions doubting their love, which can be motivated by the opportunity to elope and take Shylock's fortune. Similarly, Lorenzo's love for Jessica is enhanced by carnal and erotic connotations during the play.
Introdução1A Renascença se caracteriza por uma profunda mudança nos padrões de percepção da realidade, bem como de um consequente surgimento da interioridade. A noção de interioridade era muito mais comum nos escritos da Renascença de Shakespeare do que nós imaginamos. O paradoxo entre a aparência exterior ornamentada, enganosa, falsa e perigosa, sempre definida em oposição à interioridade, tida como verdadeira, porém imperceptível aos sentidos, não é um problema estranho aos olhos dos contemporâneos de Shakespeare. Essa dicotomia algo maniqueísta pode parecer um problema moral particular em Shakespeare. Contudo, era um