Desenvolvimento Territorial Sustentável: iniciativa de economia social e solidária no contexto do turismo

Abstract

O presente trabalho buscou compreender de que maneira um empreendimento de economia social e solidária situado na Comunidade da Costa da Lagoa, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, contribui para o fortalecimento, tanto do turismo, quanto da cultura local, rumo ao desenvolvimento territorial sustentável. As atividades relacionadas ao turismo são, atualmente, as responsáveis pela economia do local superando as tradicionais atividades relacionadas com à agricultura de subsistência e à pesca artesanal. Partindo-se de um referencial teórico sobre economia social e solidária e desenvolvimento territorial sustentável a pesquisa qualitativa, caracterizou-se como estudo de caso exploratório e descritivo e contou com entrevistas semiestruturadas junto aos representantes da cooperativa de barcos. O estudo constatou que a cooperativa tem sido um espaço de integração social, construção de identidade e cidadania. Todavia, os entrevistados pontuam a carência de assessoria qualificada e de apoio técnico, assim como de investimentos de órgãos públicos e de organizações não-governamentais para que haja maior incremento do turismo e desenvolvimento do território.

Economia Social Solidária e Turismo de Base Comunitária: aproximações teóricas e teórico-empíricas

“…Aldecua (2011) expõe que no Equador surgem a partir de associações em comunidades indígenas. No Brasil, é comum encontrar atividades turísticas em espaços rurais a partir de associações e cooperativas que são pautadas nos princípios da economia social e solidária, sejam de camponeses (Flores, Lima & Christoffoli, 2016), de ribeirinhos (Ronconi, Menezes & Bittencourt, 2019;Mariosa et al, 2022) ou de quilombolas (Eça, 2021). Apesar de utilizarem modelos organizacionais relativamente parecidos (associações e/ou cooperativas) e proporem atividades que aproximam as comunidades do turismo, nota-se uma diferença muito grande principalmente em termos de gestão (processo decisório, lideranças, departamentos administrativos) e distribuição de renda.…”

“…No bloco "Organização da Economia Social e Solidária" destaca-se as categorias Governança Local, Autorregulação, Gestão Coletiva e Relações Ambientais (Razeto, 1990;Singer, 2002;Lavile, 2004;Chaves & Savall, 2014;Miranda, 2020;Pavlovskaya et al, 2020;Fonseca, Morais & Chiariello, 2021;Kiffer, 2021). No bloco "TBC", destacam-se as categorias Gestão Comunitária e Protagonismo Local (Flores, Lima & Christoffoli, 2016;Ronconi, Menezes & Bittencourt, 2019;Eça, 2021;Mariosa et al, 2022;Zanetoni et al, 2022). Como discutido anteriormente, casos que relatam práticas de TBC em comunidades que seguem os princípios da economia social e solidária apresentam uma diversidade de formas de gestão.…”

“…As comunidades que aderem as práticas de TBC geralmente se organizam em cooperativas e/ou associações (Boni & Vieira, 2015;Soto, 2016;Gómez-Carreto et al, 2018;Ronconi, Menezes & Bittencourt, 2019;Proença & Neto, 2022), além de redes que contemplam várias iniciativas (Soto; 2016; Luz dos Santos, Ribeiros dos Santos & Marques, 2020; Tonini & Dolci, 2020). Em termos da estrutura de suas organizações, nota-se uma diversidade de formas adotadas, o que vai ao encontro de Collazos (2023), ao constatar que as organizações da economia social e solidária são pautadas em uma economia plural, adotando várias formas de estruturação.…”

“…A autonomia e participação dos membros na tomada de decisão são marcantes em diversos casos (Gómez-Carreto et al, 2018;Ronconi, Menezes & Bittencourt, 2019;Tonini & Dolci, 2020;Graciano & Holanda, 2021). Outro ponto de destaque é o fato de que grande parte dessas associações possuem suporte de atores externos, principalmente universidades e secretarias de turismo.…”

“…No Brasil, os casos de economia social e solidária que se atrelam ao turismo, buscando maior autonomia na gestão da atividade, apresentam uma diversidade muito grande de formas de gestão. Além disso, apontam para pouco ou quase nenhuma participação na gestão do turismo local, dependendo de atores externos e empresas monopolistas (Flores, Lima & Christoffoli, 2016;Ronconi, Menezes & Bittencourt, 2019;Eça, 2021;Mariosa et al, 2022).…”