Depoimento de Esdras Borges Costa: Revisitando Itapetininga, "Freguesia" e o Vale do São Franciso

É bomba! É tiro! É violência! A guerra às drogas na Cracolândia paulistana

“…A Cracolândia configura-se como um local onde os usuários estreitam laços afetivos e sociais, assim como de proteção e cuidado. As pessoas que lá se encontram, de certa forma, mantêm uma relação afetiva com o território, uma relação de pertencimento ao lugar (18) . A região conhecida como Cracolândia Paulista situa-se próxima a duas estações de trem e à antiga rodoviária de São Paulo.…”

“…Em 1879, o bairro da Luz surgiu como área residencial no intuito de instaurar a elite cafeeira paulista naquela região. Porém, com a crise do café, em 1929, e o crescimento urbano ocorrido na época, o local começou também a ser habitado por pessoas de baixa renda (6)(7)(8)(9)(10)(11)(12)(13)(14)(15)(16)(17)(18)(19)(20) .…”

“…Essas ações de revitalização, higienização e remoções ainda ocorrem, ano após ano. Demolições e fechamentos de comércios e hotéis também ocorreram durante outras pesquisas e são relatados em outros trabalhos (18,21) . Durante a coleta de dados desta pesquisa, no ano de 2018, foi possível acompanhar mais uma das incansáveis tentativas do Estado de retirar tudo e todos que são indesejáveis da região, sempre com um objetivo maior e mais lucrativo para o Governo e para a sociedade privada.…”

“…Essa nova tentativa do Estado em acabar com o fluxo de uso de drogas da região, utilizando de extrema força policial para expulsar as pessoas que usavam drogas daquele território, ganhou, na época, notoriedade nacional, especialmente, pelo debate sobre a internação compulsória. Porém, novamente, toda essa política permeada por repressão e falta de diálogo não obteve os resultados esperados pelos órgãos estatais envolvidos (18)(19)21) . O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, em 2012, ressaltou que, na maioria das intervenções, em especial a realizada em 2012, a violência contra a população é o carro-chefe das ações e, contudo, reduz a complexidade da temática a estritamente uma questão de segurança pública e policial, não levando em conta a pluralidade que envolve o local e as pessoas que nele circulam.…”

“…O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, em 2012, ressaltou que, na maioria das intervenções, em especial a realizada em 2012, a violência contra a população é o carro-chefe das ações e, contudo, reduz a complexidade da temática a estritamente uma questão de segurança pública e policial, não levando em conta a pluralidade que envolve o local e as pessoas que nele circulam. Coincidentemente, também em janeiro, mas do ano seguinte, novamente houve mais ações permeadas pela falta de direitos humanos para com as pessoas que usavam drogas na região, em especial por tratar-se das questões envolvendo a internação compulsória, que ganhou espaço na mídia e gerou grande embate entre diferentes parcelas da população, que apoiavam ou repudiavam tais intervenções (18) . Muitos projetos, tanto municipais como estaduais, foram sendo colocados em prática ao longo dos anos, porém, a Cracolândia, constituída como uma espécie de território itinerante, foi se deslocando pelas adjacências.…”