Das teorias de currículo às concepções de Experimentação: contradições eminentes em PPCs de Institutos Federais

Abstract

O objetivo deste artigo é identificar as teorias de currículo presentes em Projetos Pedagógicos dos Cursos (PPCs) de licenciatura em Ciências Biológicas da região Sul do País, considerando os Institutos Federais da região Sul do País, bem como identificar as concepções de Experimentação que estão articuladas aos componentes curriculares (CCRs) destes cursos. Como resultados, evidenciamos a presença de contradições especificamente no que se refere ao teor curricular, impregnado pelo viés tradicional ou crítico na mesma intensidade (em sete PPCs). Paralelamente a isso, a concepção de Experimentação demonstrativa apareceu com maior frequência em 48 CCRs, seguida da empirista-indutivista, em 15 CCRs e pela investigativa, em dez CCRs, o que caracteriza a não congruência entre os discursos curriculares críticos e as concepções de Experimentação que na sua maioria se disseminam pela demonstração. Tais resultados representam aspectos que caracterizam o currículo dos cursos de licenciatura em Biologia nos Institutos Federais

Não chorar o leite derramado: uma análise textual discursiva do conhecimento profissional do currículo sobre estequiometria de quatro professores mineiros

“…Nas escolas, nos diferentes níveis da esfera oficial e nos diferentes contextos pelos quais circulam os textos das políticas curriculares, sempre há processos de recontextualização, fazendo com que as políticas curriculares precisem ser interpretadas para além dos limites do poder central. Lopes (2016), ao tecer discussões acerca da produção dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM), considera não caber o entendimento das políticas curriculares oficiais enquanto textos homogêneos, vindos de cima, inclusive por conta de diferentes agentes pertencentes a diferentes contextos integrarem a construção da proposta, à época.…”

“…De um lado, defendemos aqui a importância da compreensão e concepção de um currículo a partir dos aspectos da política educacional, considerando as normativas para o desenvolvimento do educando, ao mesmo tempo em que considere as várias dimensões do conhecimento escolar e que carregue consigo as escolhas da comunidade escolar, que seja construído na perspectiva dos debates micro e macropolíticos, assumindo a relevância de todos os seus atores durante a sua construção, como discutido por Lopes (2016). Por outro lado, não concordamos com a exclusividade da ideia mercadológica aplicada à educação, bastante tensionada ao neoliberalismo desde a regulamentação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996) -favorecendo o desenvolvimento educacional para atender especificamente aos interesses do mercado, formação de mão de obra estritamente técnica, com pouca (ou nenhuma) preocupação relacionada às expectativas sociais e culturalmente construídas em sociedade -como bem discutido por nossos pares recentemente (CARRIELLO et al, 2022;DECONTO;OSTERMANN, 2021;GONÇALVES;MESQUITA, 2021;SANTOS;KATAOKA, 2022).…”

Prescrições curriculares e formação docente para o ensino de ciências: possíveis implicações das escolhas do Currículo da Cidade para a formação de estudantes do ensino fundamental da rede pública municipal de São Paulo

“…No Brasil, e no que concerne às políticas educacionais, o currículo tem assumido um papel de destaque. Há certa ênfase no papel de professores(as), pois se compreende que a atuação docente é estratégica para assegurar o sucesso das reformas educacionais (LOPES, 2004). De acordo com esta autora, podemos compreender que contextos históricos e sociais das políticas de currículo influenciam docentes de maneira diretiva, colocando-os como corresponsáveis pelas aprendizagens de estudantes, impondo limites ao seu fazer curricular e lhes propondo o desafio da implementação de ações práticas.…”

“…Buscando alinhavar a relação entre as políticas públicas de currículo, os conhecimentos selecionados e prescritos por orientações dessa natureza, e os processos de formação de professores(as), é importante compreender que as políticas educacionais, em especial as de currículo, resultam de processos complexos de negociação, com momentos relacionados à produção de dispositivos legais, à elaboração de documentos curriculares e aos processos de implementação; ainda, deve-se atentar para o fato de que tais momentos se encontram interrelacionados (LOPES, 2004). De acordo com Ball e Bowe (1992) 3 , citados por Lopes (2004), há que se considerar também que textos e discursos produzidos em tais contextos não são fechados, não possuem sentidos fixos; e, principalmente, que a transferência de sentidos de um espaço político educacional a outro é sujeita a interpretações e contestações.…”

“…Ainda nessa perspectiva, e comungando com o que propõe Bernstein (1996), é necessário compreender os processos de recontextualização 4 , ou seja, como ocorrem os mecanismos de transformação dos postulados das políticas públicas das esferas centrais de poder para as dos demais entes, como estados e municípios, ou para os órgãos que representam o Estado para os contextos de trabalho pedagógico nas escolas. Lopes (2004) destaca que, nesse 2 MORAES, F. V. Os desafios e as possibilidades de ensinar ciências nos anos iniciais do Ensino Fundamental: uma investigação com professores. 2014.…”