INTRODUÇÃOA preocupação com as mudanças climáticas e as medidas que vêm sendo adotadas no mundo para seu controle deverão ter impacto direto na atividade industrial. Essa perspectiva tem levado ao crescimento de investimento em tecnologias e produtos mais "limpos". Na área de energia em particular, somam-se ainda para muitos países questões estratégicas ligadas à segurança de abastecimento e busca de níveis menos desconfortáveis de dependência. Nesse contexto, abrem-se oportunidades para o desenvolvimento de uma indústria baseada em matérias-primas renováveis (MPR). Além dos biocombustíveis já conhecidos, um fluxo de inovações em desenvolvimento pode estar lançando as bases de uma indústria integrada de exploração da biomassa. Essa indústria pode ultrapassar os limites da produção de biocombustíveis e oferecer rotas para a substituição de matérias-primas fósseis e introdução de novos produtos químicos. No futuro, quando a base de matérias-primas deixar de ser fóssil, energia e química serão certamente indústrias muito diferentes das atuais.O Brasil tem uma posição interessante nesse cenário. O país é líder na utilização de matérias-primas renováveis para fins energéticos -a indústria do etanol é a referência mundial no setor. A petroquímica, construída nas últimas quatro décadas com base em tecnologias externas, consolidou-se recentemente em empresas de porte internacional. À primeira vista, parecem existir vantagens comparativas para a participação brasileira na indústria do futuro baseada em MPR. Entretanto, essa indústria, ainda em construção, pode exigir um esforço tecnológico considerável. Como se caracteriza a dinâmica tecnológica dos desenvolvimentos em curso no mundo? Que políticas e estratégias de inovação podem preparar o país para disputar uma posição de destaque nessa área? Em que medida a atual vantagem competitiva em etanol pode ser mantida ao longo do tempo? Ou melhor, em que medida a vantagem competitiva em etanol pode ser transferida para a indústria do futuro baseada em MPR e levar o país a ter uma posição proativa nessa indústria?Essas questões trazem à tona um problema central: como realizar um planejamento tecnológico que possa servir de base para as políticas e estratégias de ciência, tecnologia e inovação adequadas à indústria do futuro? Diversos exercícios de planejamento têm sido usados para orientar a reflexão e a elaboração de estratégias em novas tecnologias. A construção de Technology Roadmaps é uma dessas ferramentas. 1,2 Ao conectar mercados, produtos e tecnologias em relação ao tempo, essa ferramenta fornece um modo de identificar, avaliar e selecionar alternativas tecnológicas que podem ser usadas para responder aos problemas do presente e do futuro. 3-7 A contribuição dos roadmaps às organizações, sejam elas empresas ou organismos governamentais, se dá principalmente pela orientação que propiciam ao monitoramento do ambiente e à avaliação e acompanhamento de tecnologias específicas. Incluem-se aqui as tecnologias de ruptura, 8 que podem ter o potencial de redefinir uma indústria...