Contextualização sobre a Programação de Condições para Desenvolvimento de Comportamentos (PCDC): Uma experiência brasileira

Abstract

Dentre as tecnologias derivadas da Análise Experimental do Comportamento, há a Programação de Condições para Desenvolvimento de Comportamentos que possibilita analisar e arranjar condições de ensino que maximizam e aceleram as mudanças comportamentais pretendidas e diminuem a ocorrência de erros. Trata-se de uma tecnologia de ensino que tem sido utilizada tanto para caracterizar comportamentos a serem ensinados em diferentes contextos quanto para construir, aplicar e avaliar programas de ensino que visam ao desenvolvimento de comportamentos, com base em princípios analítico-comportamentais. Sendo assim, este artigo tem por objetivos caracterizar a Programação de Condições para Desenvolvimento de Comportamentos como área de investigação e de planejamento de ensino; caracterizar os contextos históricos da programação de ensino e os pressupostos teórico-metodológicos que a constituem, descrever as etapas que compõem o processo de programar ensino e apresentar a diversidade de sua aplicação. Fornecer um panorama geral da Programação de Condições para Desenvolvimento de Comportamentos como área de pesquisa e tecnologia para intervenção em processos de ensino-aprendizagem pode ser um passo importante para torná-la mais acessível àqueles interessados em planejamento de condições de ensino.

Objetivos de ensino para capacitar estudantes de Medicina ou médicos(as) a comunicar notícias difíceis

“…Já objetivos de ensino com poucas informações sobre classes de estímulos antecedentes, classes de respostas e classes de estímulos consequentes deixam de explicitar informações sobre as relações entre as ações a serem apresentadas pelo aprendiz e o seu ambiente (correspondente ao critério de completude) também limitam o manejo de condições para seu desenvolvimento. Programar contingências de ensino a partir dos princípios da Análise do Comportamento envolve criar condições artificiais com características semelhantes aos eventos que serão encontrados pelo aprendiz em seu campo de atuação profissional (Cortegoso & Coser, 2011;Kienen, et al, 2021). Dessa forma, os componentes dos objetivos de ensino assumem função de estímulo discriminativo para que o programador do treinamento exerça a sua função e planeje o ensino, sendo portanto um critério relevante.…”

“…Em geral, as consequências faziam referência às paráfrases da literatura, relacionadas à classe geral de comunicar notícias difíceis. A insuficiência de descrições de classes de estímulos consequentes, como identificado nos estudos, diminui a probabilidade de que os aprendizes fiquem sob controle da função de seus comportamentos, ou seja, do que devem produzir no ambiente por meio de suas ações (Cortegoso & Coser, 2012;Kienen, et al, 2021;Matos, 2001). Sem considerar, por exemplo, que comunicar notícias difíceis promovendo suporte ao paciente contribui para aumentar a probabilidade de que o paciente tenha clareza de seu processo de adoecimento e assim criar condições para que escolha condutas médicas que estejam de acordo com seus valores, a equipe médica pode diminuir a autonomia do paciente e decidir o direcionamento do tratamento sem consultá-lo.…”

“…O resultado de processos de ensino e aprendizagem, como treinamentos ou programas de capacitação, deve consistir em comportamentos que são desenvolvidos nos e pelos aprendizes e que, portanto, passam a ser capazes de apresentá-los (Cortegoso & Coser, 2011;Kienen, et al, 2021). Nesse sentido, os objetivos de ensino a serem propostos pelo professor devem ser descritos de forma a especificar comportamentos a serem apresentados pelo aluno e por isso são denominados "comportamentos-objetivo" (Botomé, 1980;Carvalho, et al, 2014;Kienen, et al, 2017;Luiz & Botomé, 2017).…”

“…Quando conteúdos (conhecimento ou informação) são -equivocadamente -propostos como objetivos de ensino, eles costumam afastar o aluno da realidade na qual deveria estar sendo capacitado, uma vez que os conteúdos nem sempre se referem aos aspectos diretos com os quais os alunos irão lidar, tende a ensinar a repetição de informações contidas em livros e são insuficientes para ensinar as pessoas a lidar com os aspectos do contexto no qual se inserem. O conhecimento produzido deve assumir função de matéria-prima que, modificada, interpretada e transformada contribui para planejamento de condições que promovam aprendizagens nos alunos, cujo produto é o comportamento que modifique a realidade (Franken, 2009;Kienen, et al, 2021;Luiz & Botomé, 2017). Dessa forma, a proposição de comportamentos-objetivo, superando a noção de conteúdo a ser transmitido, aumenta a possibilidade de transformação social, uma vez que os comportamentos desenvolvidos em contexto de ensino passam a ser apresentados pelos aprendizes em seus contextos profissionais, viabilizando amenizar ou resolver necessidades sociais presentes nesses contextos.…”

Um estudo comparativo entre tecnologias de ensino derivadas da Análise do Comportamento

“…Nesse sentido, o termo "tecnologia de ensino" pode ser definido como um conjunto de procedimentos e recursos, baseado em evidências, voltados ao desenvolvimento de comportamentos que visam solucionar problemas (Kienen et al, 2021). Kienen et al destacam que as tecnologias de ensino podem ser aplicadas em quaisquer ambientes em que haja necessidade de desenvolver repertórios a partir de interações sociais.…”