O artigo trata de um aspecto central do trabalho realizado pelas doulas e educadoras perinatais – profissionais que prestam apoio físico, emocional e informacional à mulher durante a gestação, o parto e o puerpério –, qual seja, a habilidade de estabelecer e sustentar um certo tipo de vinculamento com a mulher. A partir da pesquisa com doulas alinhadas à medicina baseada em evidências científicas que atuam em Brasília (DF), proponho que certos conceitos, imagens e afetos mobilizados por elas tensionam e desafiam a hegemonia dos valores que sustentam os protocolos adotados pelas instituições médico-hospitalares. O conceito de vinculamento (Latour, 2016) nos ajuda a perceber que, sob o aparente contrassenso de uma pedagogia do instinto feminino aplicada pelas doulas, viceja uma modalidade diferencial de cuidado, que pode ser condensada na expressão “mulheres que apoiam mulheres”, e que, em alguma medida, desestabiliza as tendências liberais, individualistas e hedonistas presentes no ideário da “humanização” do parto.