Conservadorismos, fundamentalismo protestante e democracia no Brasil: Uma compreensão em chave pós-estruturalista
Robson da Costa de Souza,
Jefferson Evânio da Silva
Abstract:Resumo: Este artigo tematiza as articulações entre conservadorismos, fundamentalismo protestante e democracia no Brasil. Destacam-se, numa perspectiva pós-estruturalista, três níveis distintos: (a) uma genealogia do conceito de conservadorismo; (b) uma problematização das formações discursivas neocalvinistas; (c) uma reflexão teórica acerca do lugar ocupado pela religião no espaço público brasileiro. Caminha-se primeiramente no sentido de desnaturalizar o conceito de conservadorismo, seja pela apresentação dos… Show more
“…Este artigo tem por objetivo central realizar a problematização de uma formação discursiva em franca expansão entre os evangélicos brasileiros, a saber, o neocalvinismo (Alencar, 2018;Novais, 2019Novais, , 2022Souza, 2020;Silva, 2022) 3 . A propósito, o interesse pela temática, em relação ao assunto mais abrangente do conservadorismo protestante brasileiro, deu-se não apenas em razão das polêmicas envolvendo a articulação, no discurso público, de uma gramática teológica de legitimação do engajamento político, como também pela participação de "protestantes tradicionais" na formação de quadros técnicos do governo Bolsonaro (PL) -André Mendonça, Milton Ribeiro, Benedito Guimarães Aguiar Neto, entre outros (Py, 2020).…”
Section: N T R O D U ç ã Ounclassified
“…No que diz respeito ao assunto, o desenvolvimento de uma teologia pública neoconservadora a orientar, internamente aos grupos religiosos calvinistas (brasileiros), a participação política de evangélicos, tem suscitado, no campo das Ciências da Religião, de modo geral, e na área da Sociologia da Religião, de forma específica, uma discussão acerca de um tipo de protestantismo que, até recentemente, se fazia conhecer por sua rejeição ao desenvolvimento de uma racionalidade orientada à constituição de uma concepção alternativa de sociedade brasileira (Burity, 2020a(Burity, , 2020bSouza, 2020;Silva, 2022).…”
Section: N T R O D U ç ã Ounclassified
“…Porém, a reivindicação da religião como elemento constitutivo da vida pública vem assumindo, nas últimas décadas, os contornos de um tipo de discurso dominado pela relação "nós"-"eles" Silva, 2022). Funcionando no registro político-social, a fetichização contemporânea da "crença", em meio às "luzes" e "sombras" de um discurso paradoxal do Sagrado (Cavalcante, 2009), para usar a metáfora de um teólogo brasileiro, assume a forma de um projeto estratégico de "recrudescimento das lideranças" religiosas (Souza, 2019).…”
Section: N T R O D U ç ã Ounclassified
“…Ao expressar-se nos termos de uma gramática de padronização cultural e de legitimação política, essa formação discursiva, denominada de "Cosmovisão Cristã" (ou, de forma mais específica, "cosmovisão calvinista"), procura se configurar, em uma sociedade como a brasileira, como um significante vazio a ser mobilizado pelos atores religiosos (presbiterianos ou não) segundo lógicas culturais facilmente associadas, no nível discursivo, ao que se convencionou chamar hoje de "conservadorismo protestante" (Souza, 2020;Silva, 2022).…”
Section: N T R O D U ç ã Ounclassified
“…Nessa perspectiva, o que constitui a coerência de uma formação discursiva é a "regularidade na dispersão" 4 . Dito de outro modo, esse grande "Outro virtual" que crê, delineando os contornos de um regime de verdade, encarna entre parcela dos protestantes históricos brasileiros mais alinhados à tradição schaefferiana (presbiterianos, batistas, entre outros), sob a tutela de uma assim chamada "epistemologia reformada", e até mesmo entre alguns pentecostais e neopentecostais, em um sugestivo processo de "despentecostalização" (Fernandes Silva, 2017), as aspirações conservadoras de uma visão religiosa de mundo (Souza, 2020;Silva, 2022).…”
Tendo por base uma problematização acerca das aspirações conservadoras de uma visão religiosa de mundo orientada à padronização cultural, este artigo, ao recuperar os contornos de uma racionalidade marcada por não poucas ambiguidades, mas com pretensões que excedem a uma simples disjunção das esferas secular e religiosa, procura realizar, a partir do resgate genealógico da ética calvinista, uma investigação orientada à compreensão das lógicas presentes numa formação discursiva que se apresenta em franca expansão entre os evangélicos brasileiros, a saber, o neocalvinismo. Procurando compreender as identidades sociais em uma perspectiva pós-estruturalista, desenvolve-se, também, a partir da noção weberiana de racionalização, uma busca pelos elos estabelecidos entre a ideia calviniana de livre uso das coisas que, em si mesmas, são indiferentes (adiaphora), e a concepção agambeniana de um uso livre e gratuito do tempo e do mundo. Finalmente, tratar-se-á dos aspectos relacionados aos desenvolvimentos de uma teologia política contemporânea, tomando como ponto de partida a recepção da tradição reformada no Brasil. Portanto, a ênfase nos aspectos teórico-metodológicos da análise pós-estrutural do fenômeno religioso se dará em três níveis discursivos distintos (uma arqueologia da ética calvinista; os usos e abusos dessa mesma ética pela Teoria Social contemporânea e o neocalvinismo brasileiro), constituindo-se em um potente recurso para o estudo da ética calvinista em relação à temática mais abrangente da teologia política contemporânea.
“…Este artigo tem por objetivo central realizar a problematização de uma formação discursiva em franca expansão entre os evangélicos brasileiros, a saber, o neocalvinismo (Alencar, 2018;Novais, 2019Novais, , 2022Souza, 2020;Silva, 2022) 3 . A propósito, o interesse pela temática, em relação ao assunto mais abrangente do conservadorismo protestante brasileiro, deu-se não apenas em razão das polêmicas envolvendo a articulação, no discurso público, de uma gramática teológica de legitimação do engajamento político, como também pela participação de "protestantes tradicionais" na formação de quadros técnicos do governo Bolsonaro (PL) -André Mendonça, Milton Ribeiro, Benedito Guimarães Aguiar Neto, entre outros (Py, 2020).…”
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“…No que diz respeito ao assunto, o desenvolvimento de uma teologia pública neoconservadora a orientar, internamente aos grupos religiosos calvinistas (brasileiros), a participação política de evangélicos, tem suscitado, no campo das Ciências da Religião, de modo geral, e na área da Sociologia da Religião, de forma específica, uma discussão acerca de um tipo de protestantismo que, até recentemente, se fazia conhecer por sua rejeição ao desenvolvimento de uma racionalidade orientada à constituição de uma concepção alternativa de sociedade brasileira (Burity, 2020a(Burity, , 2020bSouza, 2020;Silva, 2022).…”
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“…Porém, a reivindicação da religião como elemento constitutivo da vida pública vem assumindo, nas últimas décadas, os contornos de um tipo de discurso dominado pela relação "nós"-"eles" Silva, 2022). Funcionando no registro político-social, a fetichização contemporânea da "crença", em meio às "luzes" e "sombras" de um discurso paradoxal do Sagrado (Cavalcante, 2009), para usar a metáfora de um teólogo brasileiro, assume a forma de um projeto estratégico de "recrudescimento das lideranças" religiosas (Souza, 2019).…”
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“…Ao expressar-se nos termos de uma gramática de padronização cultural e de legitimação política, essa formação discursiva, denominada de "Cosmovisão Cristã" (ou, de forma mais específica, "cosmovisão calvinista"), procura se configurar, em uma sociedade como a brasileira, como um significante vazio a ser mobilizado pelos atores religiosos (presbiterianos ou não) segundo lógicas culturais facilmente associadas, no nível discursivo, ao que se convencionou chamar hoje de "conservadorismo protestante" (Souza, 2020;Silva, 2022).…”
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“…Nessa perspectiva, o que constitui a coerência de uma formação discursiva é a "regularidade na dispersão" 4 . Dito de outro modo, esse grande "Outro virtual" que crê, delineando os contornos de um regime de verdade, encarna entre parcela dos protestantes históricos brasileiros mais alinhados à tradição schaefferiana (presbiterianos, batistas, entre outros), sob a tutela de uma assim chamada "epistemologia reformada", e até mesmo entre alguns pentecostais e neopentecostais, em um sugestivo processo de "despentecostalização" (Fernandes Silva, 2017), as aspirações conservadoras de uma visão religiosa de mundo (Souza, 2020;Silva, 2022).…”
Tendo por base uma problematização acerca das aspirações conservadoras de uma visão religiosa de mundo orientada à padronização cultural, este artigo, ao recuperar os contornos de uma racionalidade marcada por não poucas ambiguidades, mas com pretensões que excedem a uma simples disjunção das esferas secular e religiosa, procura realizar, a partir do resgate genealógico da ética calvinista, uma investigação orientada à compreensão das lógicas presentes numa formação discursiva que se apresenta em franca expansão entre os evangélicos brasileiros, a saber, o neocalvinismo. Procurando compreender as identidades sociais em uma perspectiva pós-estruturalista, desenvolve-se, também, a partir da noção weberiana de racionalização, uma busca pelos elos estabelecidos entre a ideia calviniana de livre uso das coisas que, em si mesmas, são indiferentes (adiaphora), e a concepção agambeniana de um uso livre e gratuito do tempo e do mundo. Finalmente, tratar-se-á dos aspectos relacionados aos desenvolvimentos de uma teologia política contemporânea, tomando como ponto de partida a recepção da tradição reformada no Brasil. Portanto, a ênfase nos aspectos teórico-metodológicos da análise pós-estrutural do fenômeno religioso se dará em três níveis discursivos distintos (uma arqueologia da ética calvinista; os usos e abusos dessa mesma ética pela Teoria Social contemporânea e o neocalvinismo brasileiro), constituindo-se em um potente recurso para o estudo da ética calvinista em relação à temática mais abrangente da teologia política contemporânea.
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