Comparação entre os conceitos de self na FAP, na ACT e na obra de Skinner

Abstract

Diversos autores da Análise do Comportamento debatem sobre o conceito de self, incluindo B. F. Skinner, os proponentes da Psicoterapia Analítica Funcional (FAP) e da Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT). Entretanto, apesar da relevância dessas duas modalidades terapêuticas, as discussões a respeito do self têm carecido de uma integração entre as propostas. O presente artigo tem como objetivo fazer um breve levantamento sobre a noção de self na obra de Skinner e nos escritos da FAP e da ACT, apontando diferenças e semelhanças. Para isso, foi apresentado o processo de construção do conceito de self desde as formulações preliminares a respeito do Eu na obra Skinneriana, passando pelos textos da FAP e da ACT. A partir dessas definições, foram descritos padrões de interação entre o indivíduo e o ambiente em termos de relações funcionais e princípios comportamentais, culminando em três categorias diagnósticas funcionais que exemplificam os problemas psicológicos mais relatados nos consultórios.

O impacto da piada racista na construção do self de pessoas negras

“…O comportamento verbal arbitrariamente aplicável às relações entre estímulos diferentes pode ser derivado a partir da exposição ao treino de múltiplos exemplares de determinada relação. Se um indivíduo é exposto a treinos de múltiplos exemplares das relações "branco-luz", "branco-paz", "branco-bom" e também das relações "preto-escuridão", "preto-ruim" e "preto-maldade" pode-se daí derivar a relação: "todo branco é bom e todo preto é ruim" (Hughes & Barnes-Holmes, 2016;Moreira et al, 2017;Skinner, 1957). Cada uma dessas redes de relações abstraídas é denominada quadro relacional.…”

“…"), e negro-inferior (e.g., "além de ser preto é burro"; "eu não sou tuas negas") entre outras. Se um indivíduo negro é exposto e aprende algumas ou todas as relações arbitrárias referentes à pessoa negra, pode entender que essas relações também se referem a ele (Hughes & Barnes-Holmes, 2016;Moreira et al, 2017). Assim, estímulos inicialmente neutros podem passar a ter função aversiva por fazer parte de quadros relacionais com pessoas negras.…”

“…De modo geral, entre os autores da Análise do Comportamento, o self é entendido como um conjunto de comportamentos (públicos e privados) relacionados à percepção e descrição de si mesmo, identificados e aprendidos a partir da interação do indivíduo com seu ambiente/comunidade verbal (Moreira et al, 2017;Rubio, 2004). Podemos compreender que a construção do self se dá a partir das interações do indivíduo com os quadros de relações reproduzidas no seu ambiente.…”

O conceito de Imagem Corporal como produto de relações sócio-verbais: cultura, self e corpo

“…O repertório de autoconhecimento é associado ao self, que não é único, estático ou causador do comportamento (Kohlenberg & Tsai, 1996/2001Skinner, 1953Skinner, /2003Tsai, 2006). O self é então conceituado como tendências de respostas encobertas (sentimentos, pensamentos, predisposições comportamentais) possibilitadas pelo desenvolvimento da cultura no que se refere ao ensino do comportamento verbal pela comunidade (Moreira et al, 2017).…”

“…Acrescenta-se à discussão a capacidade de responder a um estímulo em função de suas relações simbólicas com outros, a partir das relações de aprendizagem entre estímulos de diferentes topografias, mas que são funcionalmente semelhantes. Por exemplo, responder com nojo frente ao estímulo auditivo "gorda" (a palavra falada), o estímulo textual "gorda" (a palavra escrita) e o estímulo visual (ver o corpo no espelho) (Hayes et al, 2001, Moreira et al, 2017.…”