Yamashita S et al.
Radiol Bras 2003;36(4):255257
255
INTRODUÇÃOA cisticercose é um importante e grave problema de saúde pública, decorrente da infestação do homem pela larva Cysticercus cellulosae, do parasita Taenia solium e muito raramente da Taenia saginata. É a mais grave parasitose do sistema nervoso central, por causa da sua elevada incidência e limitação terapêutica (1) . Incide em qualquer faixa etária, sem distinção de raça, sexo, cor ou classe sócio-econômica. É endêmica em muitas partes do mundo, particularmente na América Latina, Áfri-ca e Ásia, e ainda relativamente freqüente em Portugal, Espanha e países do Leste Europeu (2,3) . As localizações preferenciais do parasita, segundo Meira (4) , são: a) sistema nervoso central, em 70% a 80% dos casos; b) globo ocular, em 18% a 20% dos casos; c) pele, em 10% a 12% dos casos; d) musculatura, em 5% a 6% dos casos.
RELATO DO CASOÉ relatado, neste trabalho, um caso raro de neurocisticercose intramedular em um paciente de 36 anos de idade, solteiro, do sexo masculino, pardo, procedente e natural da zona urbana de Taquarituba, SP.O paciente vem sendo acompanhado no Serviço de Diagnóstico por Imagem da Faculdade de Medicina de Botucatu, SP, desde outubro de 1992, quando nos procurou, após um período de três anos com queixas de cefaléia difusa, de forte intensidade, em "agulhadas", progressiva, seguida de repuxamento na cabeça (não sabia referir qual lado) e perda da consciência, situações que os vizinhos o viam se "debater". No início a freqüência era de uma vez por mês, porém estava aumentando progressivamente, e na época da admissão chegava a ser de uma a duas vezes por semana. Referia que, após as crises, a cefaléia persistia com confusão mental, esquecimento e sonolência. Na época não havia alteração do exame neurológico.Em setembro de 1998 voltou à triagem do nosso Serviço, com quadro de crises convulsivas, tendo sido feita, nessa oca-
Relato de Casosião, a hipótese diagnóstica de neurocisticercose, pela tomografia computadorizada (TC) e ressonância magnética (RM) de crâ-nio (Figura 1), que foi confirmada por exame do líquido cefalorraquiano.O paciente tinha cisticercos em vários estágios de evolução, com múltiplas lesões parenquimatosas. Foi submetido a esquema de tratamento com corticóides e albendazol. Evoluiu com quadro de dor à movimentação dos membros superiores e membros inferiores à direita, com diminuição da sensibilidade nesses locais e também com diminuição da força e reflexos do membro inferior direito, além de dor à flexão cervical. Foi então submetido ao exame de TC e RM da coluna cervical, tendo sido encontrado um cisticerco intramedular (Figura 2).No histórico dos antecedentes pessoais relatava trauma crânio-encefálico havia 16 anos, ingestão de lingüiça crua, eliminação de vermes (proglotes); negava antecedentes de diabetes mellitus, hipertensão arterial ou tuberculose.
DISCUSSÃOA forma de acometimento do sistema nervoso na cisticercose pode ser classificada, segundo Meira Os autores relatam um caso raro de neurocisticercose intramedular e...