Celebrando São Besso ou o que Robert Hertz e a Escola Francesa de Sociologia têm a nos dizer sobre festas, rituais e simbolismo

Abstract

IntroduçãoAs festas de santo têm se mostrado um objeto privilegiado pelos cientistas sociais interessados no estudo das relações entre religião, cultura e sociedade através da análise de rituais. Desde os estudos de comunidade dos anos 1940-1950, desenvolvidos em sociedades camponesas tanto na América Latina, como nas regiões mediterrânicas, nos quais invariavelmente encontrava-se um item sobre devoções e festejos, passando pela literatura das décadas de 1970-1980, interessada em discutir as diversas configurações da cultura popular, as análises sobre festas constituem um patrimônio considerável da Sociologia e da Antropologia.Identificar a existência desse patrimônio, no entanto, não implica considerar que o interesse pelo tema seja constante, pois há períodos de maior ou menor efervescência dessas análises. Além dos dois momentos mencionados no parágrafo anterior, o que notamos é que, desde a segunda metade dos anos 1990, os estudos das festas vêm passando, no Brasil, por um reaquecimento, o que uma consulta ao banco de teses e dissertações da Capes poderia confirmar.A renovação do interesse pelas festas poderia relacionar-se a alguns processos concomitantes: de um lado, sugiram possibilidades de reinterpretação

Deslocamentos etnográficos: religião, raça e poder em Moçambique

“…Essas certezas, também vale dizer, eram as únicas que eu carregava comigo desde que saí do Brasil e foram importantes para direcionar o meu olhar. Enquanto estive em campo, tinha em mente o texto em que Menezes (2009) discute a abordagem caleidoscópica de Robert Hertz na festa de São Besso e tentei colocar em prática um olhar atento que conseguisse observar o mesmo acontecimento por vários ângulos e a partir de diferentes escalas. Exatamente como num caleidoscópio, os eventos e situações poderiam assumir diferentes configurações que deveriam ser consideradas em suas especificidades, de modo a não "transformar a análise num somatório de ideias, mas rearticulá-las numa sobreposição de interpretações" (MENEZES, 2009: 9).…”

Festas ao Arcanjo São Miguel no contexto de Reforma Católica Ultramontana em Porto Alegre na primeira metade do século XX

“…Essas mudanças são reatualizações dos rituais, considerados mais apropriados, mas não menos sagrados (ELIADE, 2010(ELIADE, [1959, 76-77), que podem ou não manter a mesma estrutura, incorporar novos elementos ou eliminar outros. A partir de Durkheim, em As formas elementares da vida religiosa, tem-se um marco para a interpretação da relação entre festividade e vida social, de tal modo que esses eventos podem estar relacionados à ideia de que é a própria sociedade que está sendo comemorada e refeita (MENEZES, 2009). É nesse sentido que discutiremos as formas de organizações de festividades religiosas promovidas pela Irmandade São Miguel e Almas da cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, e suas modificações, principalmente quando comparadas àquelas do século XIX, mais preocupadas com as exteriorizações da fé e pela participação plena dos irmãos nas comemorações.…”

Tempos De Pandemia, Práticas Cotidianas E Projeto De Nação: De Que Evangélicos Estamos Falando?

“…Portanto, mais do que um conjunto disperso de eventos protagonizados por lideranças religiosas nos primeiros meses da pandemia, os dados trazidos neste texto se aproximam mais de uma abordagem caleidoscópica, embora limitada pelos efeitos da própria pandemia que me impediram de encontrar fiéis e conversar mais detidamente sobre os impactos reais do coronavírus em suas vidas cotidianas. Ainda assim, trata-se de um esforço analítico de olhar atentamente para as diferentes dimensões e escalas desses eventos que, como bem nos ensina Menezes (2009), deve considerar suas especificidades e seus múltiplos atores.…”