Celebração do casamento igualitário e homofobia nas redes digitais: #LoveWins na disputa de sentidos oriundos da apropriação da Havaianas

Abstract

<jats:p>O trabalho analisa os sentidos oriundos do modo como Havaianas, a marca de sandálias brasileira, apropria-se das manifestações em rede de apoio à decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos que tornou legal, em 2015, o casamento igualitário naquele país. Ao atualizar sua foto de perfil no Facebook utilizando, inicialmente, o filtro com as cores do arco-íris e depois dispondo as sandálias em cores que lembram a bandeira do movimento LGBT, a marca desencadeou uma conversação em que sentidos em torno do tema homofobia foram se constituindo. A ação das Havaianas enquadra-se na condição de ciberacontecimento e articula intricadas relações que passam por questões de gênero, narrativas espalhadas e permeabilidade de fronteiras mediáticas. O artigo também apresenta a experiência metodológica designada como Análise de Construção de Sentidos em Redes Digitais, que se ocupa de processos micros da conversação em rede.</jats:p>

#cubank no Twitter:

“…Neste estudo, investigamos o ciberacontecimento gerado pela #cubank, classificado como um protesto virtual , após anúncio de que Anitta passaria a compor o conselho de administração do Nubank e por ela ter criticado o governo Jair Bolsonaro. Henn et al (2018) analisam ciberacontecimentos a partir da abordagem pragmática de acontecimento (QUÉRÉ, 2005). O acontecimento é, assim, "um fenômeno de ordem hermenêutica: CONCHA por um lado, ele pede para ser compreendido, e não apenas explicado, por causas; por outro lado, ele faz compreender as coisas -tem, portanto, um poder de revelação" (QUÉRÉ, 2005, p. 60) e de instalação de campos problemáticos (HENN et al, 2018).…”

“…O acontecimento é, assim, "um fenômeno de ordem hermenêutica: CONCHA por um lado, ele pede para ser compreendido, e não apenas explicado, por causas; por outro lado, ele faz compreender as coisas -tem, portanto, um poder de revelação" (QUÉRÉ, 2005, p. 60) e de instalação de campos problemáticos (HENN et al, 2018). Ciberacontecimentos são caracterizados por processos transnarrativos e hipermidiáticos que contam com a presença de atores fora dos núcleos do jornalismo tradicional; pela reverberação instantânea que passa a ser incorporada na própria narrativa, constituindo-a; e pela eclosão desses modos de acontecimentos que se tramam no cenário de conexões sistêmicas complexas (HENN et al, 2018). O ciberacontecimento gerado pela #cubank se insere em um contexto político misógino, ou seja, de discurso de ódio contra mulheres nas redes sociais (RICHARDSON-SELF, 2018).…”

“…Este estudo investigou o ciberacontecimento (HENN, 2013;BITTENCOURT et al, 2015;HENN et al, 2018) da #cubank no Twitter, criada após o Nubank anunciar a Anitta como membro do conselho de administração instituição e a artista ter criticado o governo Jair Bolsonaro horas depois. Por meio da Análise de Redes Sociais (RECUERO, 2017) foi possível visualizar a constituição de um ciberacontecimento numa rede digital (o Twitter), suas narrativas convergentes e transmidiáticas (ex.…”

“…: montagens) e o seu poder de afetação (ex. : foto de cartão Nubank quebrado) (HENN et al, 2018). A visualização em grafos congela uma situação (neste estudo, as interações em torno da hashtag #cubank no Twitter), numa espécie de recorte temporal como um raio X que esboça ligações, conexões e informações (PAULINO, 2020).…”

“…Os ciberacontecimentos são formados por meio de outras dinâmicas de semiose e podem produzir crises nas fronteiras semiosféricas (HENN, 2013). No dia 21 de junho de , um ciberacontecimento (HENN, 2013BITTENCOURT;VIERO, 2015;HENN et al, 2018), formado no ambiente digital e que desencadeou pautas jornalísticas, envolveu o banco digital Nubank e a cantora Anitta. Internautas bolsonaristas se manifestaram contra a parceria e levantaram a hashtag #cubank, cuja repercussão foi amplificada após Anitta criticar o presidente Jair Bolsonaro, o que resultou no cancelamento de uma coletiva de imprensa previamente agendada (BARBIERI, 2021;COUTO, 2021).…”