Quase tôdas as fotografias que nos deixou são do Recife e de Olinda. Representam manhàs inteiras de trabalho paciente e amoroso, em que se apurou o afeto fraterno que nos uniu, na ternura filial dos dois pelo Recife. Pela materna cidade do Recife". (Gilberto Freyre), Meu Irmão Ulysses "Pesou, de certo, na escolha, o sentimento do filho da terra, desterrado pelos acasos da vida mas sempre amoroso de sua paisagem e sempre vivendo intelectualmente as experiências nela adquiridas". (Josué de Castro), A cidade do Recife "Seu olhar que entrara em contato com o mundo moderno é obrigado a admitir que a paisagem perdera o ar ingênuo dos flagrantes de Koster e Henderson para adquirir o das modernas fotografias de usinas e avenidas novas". (Durval Muniz de Albuquerque Júnior), A invenção do Nordeste "Esse ponto de vista-mais rápido que uma caminhada, mais lento que um trem e muitas vezes ligeiramente mais elevado que o de uma pessoa-passou a ser minha janela panorâmica em grande parte do mundo ao longo dos últimos trinta anos". (David Byrne), Diários de Bicicleta "Trata-se, por meio dessas experiências, de fazer da própria vida, arquivando-a, uma obra de arte". (Philippe Artières), Arquivar a própria vida RESUMO Esta pesquisa interdisciplinar centrada no segmento da fotografia de acervo de intelectual apresenta o estudo de caso de 84 imagens feitas pelo fotógrafo amador Ulysses Freyre de alguns prédios e ruas das cidades de Olinda e do Recife entre 1923 e 1925. Ulysses fotografou durante passeios de bicicleta aos domingos ao lado do irmão, o sociólogo Gilberto Freyre. Objetiva-se traçar os dois usos dados por Gilberto às fotos de Ulysses: de base aos desenhos de Manoel Bandeira para o "Livro do Nordeste", organizado pelo sociólogo em 1925 para o centenário do Diário de Pernambuco; e como parte da concepção de inventário de edificações da arquitetura civil que serviu à Inspetoria de Monumentos Estaduais em 1928 em Pernambuco. Vale-se do campo acerca do circuito fotográfico nestas cidades, que estavam sob reformas urbanas no início do século XX, a fim de situar e revelar a fotografia de Ulysses como artefato de memória propulsor do embrionário projeto político-intelectual de Gilberto nesse período. As fotos estão no acervo da Fundação Gilberto Freyre, em Recife, Pernambuco.