Reinscrever a independência do Brasil no âmbito das agendas que mobilizam, no presente, a comunidade científica interessada em explicar o passado e, na medida do possível, com ele aprender, constitui tarefa de amplo desafio. A começar pelo fato de que, como é próprio das efemérides históricas, o ato de lembrar, comemorar, celebrar tem como sua inevitável contrapartida o esquecimento. O que, para os mecanismos da memória, pode até se revelar algo positivo e mesmo necessário para nos livrar daquele tormento paralisante provocado por uma hipotética lembrança absoluta 1 . Mas, não nos isenta da tarefa de insistir, enquanto historiadores, no que muitos talvez prefiram esquecer ou deturpar a propósito do passado, assumindo o compromisso de compreendê-lo em sua historicidade.No caso da independência do Brasil, esse dever do ofício implica admitir, antes de mais nada, estarmos diante de um tema irredutível à separação política com Portugal, no seu marco cronológico mais conhecido, de 1822. Trata--se, ao invés disso, de abordar a história das múltiplas ressonâncias deste passado, que permanece atual e atuante, resguardando inegável interesse social e historiográfico. Resulta daí a importância de recentes formulações empenhadas em problematizar alguns dos pressupostos contidos no próprio marco co-