À medida que nos distanciamos dos espaços públicos da cidade perdemos qualidades essenciais à manutenção da vida coletiva, dos direitos sociais adquiridos e manifestados nas ruas. Esse distanciamento tem se afirmado na cidade moderna, promovendo uma alienação no modo dos indivíduos usarem e se relacionarem com os distintos lugares no espaço. Nesse contexto, de desfragmentação do convívio citadino e da afirmação da fluidez das novas relações, a imposição dos princípios neoliberais tem se mostrado como um dos indutores onde, por meio de processos que orientam a mercantilização da vida, regulam desde o campo político e socioeconômico as expressões culturais e a construção das cidades. Em oposição, novas possibildades de uso e apropriação do espaço surgem e revelam outras possibilidades de se intervir na cidade de forma coletiva e menos padronizada. Essas ações, também chamadas táticas, são aqui tratadas como intervenções temporárias e foram caracterizadas pela sua temporalidade efêmera, pela participação coletiva e capacidade de transformar os espaços da cidade, ainda que por períodos determinados, em lugares de acolhimento e livre expressão da cultura. Neste artigo, busca-se compreender as relações dessas estratégias materializadas nos espaços livres públicos com a democratização do acesso à cidade a partir de uma discussão estruturada em quatro partes: introdução, reflexão teórica, análise do campo empírico por meio de cartografias sociais e entrevistas, tomando como base quinze intervenções mapeadas na cidade de Natal-RN, e as considerações finais.