A sociologia tem sido marcada, nas últimas décadas, por um "regresso do ator", utilizando a feliz expressão de Touraine (1986), na medida em que o indivíduo deixa de ser visto como produto de forças externas (a classe social, o gênero, a etnia etc.) e passa a ser considerado um agente que participa do contexto social e desenvolve continuamente percursos, identidades, competências e disposições. Não significa que as estruturas sociais deixem de existir, mas que estas abrem "campos de possibilidades" (desiguais) aos indivíduos e são também reconstruídas no decurso da ação individual e coletiva (cf. Velho, 1994;Giddens, 1997;Dubar, 1997;Lahire, 2002a; Beck e Beck-Gernsheim, 2003).Essa perspectiva gera novos questionamentos, sobre os quais a pesquisa empírica é ainda insuficiente: por meio de que processos se formam, ao longo da vida, as identidades e as disposições dos indivíduos? Que instâncias sociais promovem e regulam a formação dessas identidades? Será, nas sociedades modernas, a ação pedagógica (em particular, o sistema educativo) que preside a esse processo? Quais os elos mediadores entre a produção de identidades, no nível micro, e os macrofluxos de transformação das sociedades? O conceito de socialização é, sem dúvida, central para responder a essas questões, mas permanece demasiado vago, sendo, portanto, crucial compreender como, na formação das identidades, se articulam (ou não) dinâmicas tão díspares como as relações familiares, a escolarização, os círculos de sociabilidade, a