Autoritarismo no discurso da imprensa brasileira durante o golpe de 1964

Abstract

Este artigo analisa quatro entre os mais influentes jornais diários brasileiros em 1964 (Correio da Manhã e Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo) e procura compreender de que forma seu discurso sobre a crise político-militar vivida naquele momento no país apresenta características do pensamento autoritário.

Imprensa, Discurso Ideológico e Golpe de Estado: uma Análise Crítica do Discurso

“…Assim, o alinhamento proveniente de aproximações e afastamentos entre jornais, jornalistas e governo foi multifacetado. E isto tanto no período em questão quanto nos dias de hoje, em que se pode perceber um esforço por parte de alguns jornais e jornalistas, através de suas perspectivas e ações memorialísticas, ao apresentarem uma narrativa um tanto diversa, a fim de minimizar esse apoio (Kieling, 2016). De qualquer forma, a atuação da imprensa está entre os elementos que foram fundamentais para a desestabilização civil e contribuiu para a efetivação e legitimação do golpe de 1964.…”

“…Isso se dá uma vez que o discurso produzido pelos jornais não somente reflete, mas também interfere de forma significativa na construção social da realidade. Fica assim expressa, apesar de não explicada, no discurso da imprensa, a incompatibilidade entre a defesa de valores democráticos e o apoio a uma solução claramente autoritária (Kieling, 2016). Segundo Brandão (2004), na análise do discurso, um quadro teórico que combine o linguístico ao sócio histórico precisa ter como centrais os conceitos de ideologia e discurso.…”

“…No caso mais específico da presente pesquisa, procura-se entender e problematizar as relações históricas entre empresas e governo a partir do confronto com ideias hegemônicas que destacam a neutralidade, a objetividade e a imparcialidade inerentes à estas relações. Desta forma, assume-se que o golpe civil-militar e o regime ditatorial que se instalou no Brasil após 1964 foram desdobramentos destas relações e, mais particularmente, marcados por mudanças políticas em grande parte corroboradas pela atuação da grande imprensa (Abreu, 2005;Dias, 2012Dias, , 2013Kieling, 2016;Motta, 2013;Smith, 2000). De acordo com Capelato (2014, p.303), considera-se grande imprensa os periódicos tradicionais de longa duração "que se constituíram, desde o início, como empresas jornalísticas geradoras de lucros, com ampla tiragem e significativa atuação política no plano nacional".…”

Imprensa, Discurso E Ideologia: O Jornal Folha De São Paulo E O Golpe De Estado De 1964

“…E particularmente, no caso das interações entre imprensa e governo em períodos de ruptura política e crise institucional, como foi o caso da transição de um governo democrático para um governo ditatorial possibilitado através do golpe de Estado de 1964. Nessa direção, pode-se identificar uma vasta historiografia que aponta o papel da grande imprensa antes, durante e depois do movimento de tomada de poder pelos militares brasileiros e da deposição do presidente João Goulart emfins de março e início de abril de 1964 (ABREU, 2005;DIAS, 2012DIAS, , 2013KIELING, 2016;MOTTA, 2013;SMITH, 2000).…”

“…A nível metodológico, os métodos históricos, projetados para permitir que as inferências sejam extraídos de dados complexos e incompletos, apresentam grande potencial para aplicação em sistemas pesquisa (MACLEAN, HARVEY & CLEGG, 2016, p. 626, tradução nossa) Desta forma, acredita-se que essa abordagemtenha sido fundamental para se alcançar as respostas do questionamento do trabalho. Desse modo, ao assumir que o golpe de Estado de 1964foi um desdobramento das relações entre sociedade, empresas (incluindo a grande imprensa) e governo (ABREU, 2005;DIAS, 2012DIAS, , 2013KIELING, 2016;MOTTA, 2013;SMITH, 2000), o próximo capítulo irá abordar a tríade imprensa, governo e golpe de Estadoa fim de se compreender como ocorreram essas relações naquele período.…”