Aspectos clínico-epidemiológicos das neoplasias cerebrais na faixa etária pediátrica no Estado da Bahia, Brasil

Abstract

RESUMO -O estudo tem como objetivo descrever aspectos relevantes da clínica e da epidemiologia das neoplasias cerebrais em crianças entre 1 e 15 anos, no Estado da Bahia, primeiro semestre de 1995. Utilizou-se desenho de corte transversal para o levantamento de todos os casos novos e preexistentes de neoplasia cerebral diagnosticados através da neuroimagem entre todas as crianças que realizaram estes exames. Em 2 128 exames foram diagnosticados 48 casos de neoplasia cerebral, sendo 19 deles incidentes. A prevalência no estudo clínico-epidemiológico foi de 2,3% e a incidência de 0,9%. Predominou o sexo masculino (1,4:1), a faixa etária de 10-15 anos (65%), para os casos prevalentes. A faixa etária de 1 a 4 anos foi a predominante nos casos incidentes. O astrocitoma foi o mais frequente (41%) e a localização supratentorial predominou com 52%. O grupo sintomatológico ataxia e/ou paralisia dos nervos cranianos e o de distúrbios endócrinos e/ou visuais foram os mais prevalentes (82% e 43%, respectivamente). Discutimos a predominância da localização supratentorial e da faixa etária de adolescentes nas neoplasias cerebrais da infância. PALAVRAS-CHAVE: neoplasia cerebral, estudo clínico epidemiológico, incidência, prevalência, criança. Clinical epidemiological aspects of cerebral neoplams in childhood in the State of Bahia, BrazilABSTRACT -The aim of this study is to describe the relevant aspects of the medical treatment and epidemiology of brain tumors in children between 1 and 15 years old in the State of Bahia, Brazil, first semester of 1995. A cross-sectional design was used for the survey of all new cases and preexisting cases of brain tumors diagnosed through neuroimage among all the children who completed these examinations. Forty eight out of 2 128 were diagnosed as brain tumors, 19 of which being incident cases. In the clinical epidemiological study, the prevalence was 2.3 percent, and the incidence was 0.9 percent. In the prevalent cases, males predominated (1.4:1), and the average age of 10-15 years old (65 %). Among the 1-4 years old group predominated incident cases. The astrocytoma was the most frequent brain tumor (41%), and the supratentorial localization predominated by 52%. The ataxia and/or paralysis of cranial nerve and the endocrine and/or visual disturbance symptomatic groups were the most prevalent (82% and 43%, respectively). We discuss the supratentorial localization and the adolescent group predomination in cerebral neoplasms in childhood.

Association of signs and symptoms with cerebral neoplasias in infancy

“…Mesmo sendo expressivo o número de crianças que realizaram exames e tiveram relato de sintomas/sinais, alguns aspectos metodológicos necessitam de esclarecimento e discussão: 1º) o tumor cerebral é uma doença rara na infância em qualquer país, e os 33 casos analisados corresponderam a 97% do universo de tumores cerebrais em crianças, diagnosticados pela neuroimagem, e a 3/4 dos tumores prevalentes no período 10,11 ; 2º) as perdas ocorreram predominantemente no grupo sem tumor cerebral, sem dados sobre sintomas/sinais, mas a grande maioria dos laudos era de exames normais. Isso já havia sido demonstrado em Salvador, no início da década de 90, quando 85% e 78% dos laudos de exames para esclarecimentos de cefaléias e de convulsões eram normais 15 .…”

“…Suas prevalências foram elevadas no grupo sem tumor cerebral (48,3% e 50,8%, respectivamente), enquanto as prevalências de tumor foram baixas ¾ 4,1 e 1,6%. Contudo, deve-se estar alerta para cefaléias muito freqüen-tes, sobretudo quando mudam de intensidade ou de características, associadas ou não a vômitos 11 . Zaki et al (1993) 20 analisaram 11.111 casos de tumor cerebral em crianças, encontrando 6,4% com cefaléia, como queixa única, e 88% quando associada a outro sintoma.…”

“…A epilepsia na infância tem causa idiopática ou criptogenética em 70% dos casos 24 , sendo rara a sua associação com tumor cerebral, justificando a baixa acurácia (48%) do grupo 4 deste estudo. Crianças com crises parciais (exceto as benignas) devem ser investigadas com exame de neuroimagem, especialmente se as crises forem de difícil controle ou houver aparecimento de alguma alteração no exame neurológico 11,25 .…”

“…O estudo é parte de um projeto sobre neoplasia cerebral na infância, realizado no estado da Bahia 10,11 . O desenho é de corte transversal, clínico-epidemiológico, duplo cego, para validação diagnóstica de grupos de sintomas e sinais de neoplasia cerebral, tomando como padrão-ouro a tomografia computadorizada crânio-encefálica (TCCE) e/ou ressonância magnética crânio-encefálica (RMCE).…”

“…Anamnese e exame neurológico adequados em crianças, como rotina na prática pediátrica, poderão beneficiar crianças com elevada probabilidade para neoplasia cerebral. No Estado da Bahia, considerando apenas os exames financiados pelo Sistema Único de Saúde, no 1º semestre de 1995, para cada diagnóstico de neoplasia cerebral, foram efetuados 140 exames de neuroimagem, a grande maioria com resultado normal 11 . Com o presente estudo pretende-se validar os grupos de sintomas/sinais de neoplasia cerebral em crianças capazes de diagnosticar, com maior probabilidade de certeza, crianças com a neoplasia.…”