Durante o século XIX, no extremo-sul do Império do Brasil, as guerras frequentes permitiram a atualização da tradição do Antigo Regime português de recompensar os súditos que prestassem bons serviços militares. O objetivo deste artigo é acompanhar as transformações desta prática ao longo das décadas intermediárias do século XIX. Optou-se pela análise da trajetória de um personagem, cuja vida foi marcada por atividades bélicas. Inspirado na micro-história italiana, o estudo toma um nome como bússola nos arquivos, compulsando-se uma variedade de documentos de origem diversa, a fim de reconstituir contextos em que o personagem estudado efetivamente se apresentou. O artigo analisa em detalhe indícios das estratégias que possibilitaram episódios de ascensão social do biografado, assim como limites possíveis destas estratégias, evidenciados por situações de ostracismo que experimentou. A trajetória que emerge, portanto, se afasta de pressupostos de linearidade, destacando-se a interdependência entre indivíduos nas redes de reciprocidade que estabeleciam e as negociações cotidianas que empreendiam diante de estruturas sociais que condicionavam, mas não determinavam, as suas ações e os sentidos que a elas atribuíam.