Em levantamentos realizados no acervo do Centro de Arqueologia de São Paulo, nas coleções relativas aos sítios arqueológicos localizados na região do triângulo histórico de São Paulo e adjacências, foram identificadas 29 contas de vidro e de material orgânico em três contextos do século XIX: a Praça das Artes, o Solar da Marquesa de Santos e a Casa n.°1. Através da análise das técnicas de produção, são levantadas informações sobre cronologia e origem desses artefatos. Em uma pespectiva contextual global, essas miçangas dialogam com outras de contextos africanos ou da diáspora africana, tal como o Cais do Valongo, no Rio de Janeiro e Kindoki, no Congo. São Paulo no século XIX era uma cidade com forte presença da população africana. Eles estavam nas ruas, praças, pontes, chafarizes, mercados e igrejas, com seus batuques e capoeiras, formando verdadeiros territórios negros através de materialidades, identidades e agências. As contas e miçangas delimitavam hierarquias sociais internas a esses grupos e participavam da construção da paisagem negra da cidade de São Paulo.