Articulação ensino-serviço: desafios e potencialidades no contexto de um Programa de Residência Multiprofissional em Saúde

Abstract

No Sistema Único de Saúde (SUS), as possibilidades de ensino a nível de pós-graduação, nos espaços de assistências, se tornaram possíveis através da instituição da Residência Multiprofissional em área Profissional da Saúde (RMPS), com objetivo de formar profissionais para atuarem no SUS a partir da integração ensino-serviço. Para que esse processo de formação se dê de maneira efetiva, deve haver uma articulação ensino-serviço bem consolidada e que atendam aos princípios e diretrizes do SUS. Considerando a relevância de uma articulação ensino-serviço bem sedimentada, este estudo buscou investigar como tem se dado o processo de articulação entre Universidade e assistência em um Programa de RMPS de uma Universidade Pública do Nordeste. Trata-se de um estudo descritivo de abordagem qualitativa. Participaram desse estudo gestores das Unidades de Saúde em que os residentes da RMPS estão alocados, preceptores, tutores e coordenadores do programa. Os participantes colaboraram com o estudo através do preenchimento de um Questionário de Caracterização da Amostra (QCA) e realização de entrevista individual de maneira virtual, através do aplicativo Google Meet. Os resultados foram examinados por meio da análise de conteúdo de Bardin. Participaram deste estudo 17 profissionais. Da análise das entrevistas emergiram quatro categorias temáticas e oito subcategorias. Com base nos resultados, os profissionais compreendem o conceito e aplicação da integração ensino-serviço, bem como suas contribuições para os serviços de saúde e formação dos residentes. Os entrevistados pontuaram fragilidades e deficiências que têm influenciado no desenvolvimento das atividades da RMPS e trazem algumas sugestões para que tais deficiências sejam amenizadas ou erradicadas.

Educação Interprofissional e Prática Colaborativa em Residências Multiprofissionais em Saúde no contexto hospitalar

“…Os desafios para que as atividades na RMS sejam desenvolvidas de acordo com o que pressupõem os planos pedagógicos dos programas são diversos. As dificuldades vão desde a falta de compreensão dos objetivos, conceitos e finalidades da RMS, até a resistência e a falta de disponibilidade das pessoas para o desenvolvimento do trabalho multiprofissional com foco na EIP e PC (Peduzzi et al, 2020;Nascimento & Omena, 2021;Oliveira et al, 2022). Apesar de mais de 10 anos da implementação da RMS nos hospitais brasileiros, a construção do trabalho multiprofissional e colaborativo caracteriza a superação de um paradigma muito forte, que é o modelo biomédico, historicamente marcado pela previsibilidade dos lugares de atuação e pela primazia da prática médica (Pinheiro, 2021).…”

Caracterização dos programas de residência multiprofissional em saúde da família no Brasil

“…A determinação de carga horária para a coordenação é uma demanda de urgência, visto que uma gestão instável, torna vulneráveis todos os seus dependentes. E, isso contribui ainda para a desarticulação e desestímulo por parte dos profissionais (Milanesi;Caregnato;Canabarro, 2019;Oliveira et al, 2022).…”

“…Assim, é importante que as instituições possam garantir aos coordenadores de programas, condições para atuação dentro de suas atribuições com a liberação de carga horária específica e suficiente para que possam se dedicar exclusivamente a efetivação e implementação do regimento do programa. Isso ocorre por não existir uma regulamentação a nível nacional ou local, através de regimento interno, sobre a destinação de carga horária exclusiva para a dedicação ao cargo de coordenador e às demandas específicas do programa, o que leva à sobrecarga e sensação de impotência por parte dos profissionais que assumem essa função e fortalece condições crônicas no processo de implementação e consolidação da residência (Oliveira et al, 2022).…”

Formação integral dos docentes para a qualificação de futuros profissionais gerenciadores do cuidado nos serviços de saúde: uma revisão integrativa

“…Por esta razão, quando se refere ao campo da saúde, em particular, colocam-se os princípios do SUS como eixos orientadores do ensino, e se assume a adoção da concepção de currículo que defenda a interação entre os processos de conhecimentos e de trabalho. Nesse amalgamado, funde-se a integração ensino-serviço como uma tática caracterizada pelo aprimoramento das atividades curriculares desenvolvidas nos cursos da área da saúde 2022).…”

“…Constitui-se desafio o alcance de uma perspectiva formativa ampliada e integral, que concretize situações de aprendizagens reais, à luz das necessidades, no campo do ensino e do trabalho, e que permita a ação-reflexão-ação, com o desenvolvimento cognitivo (saber ser) e habilidades operacionais (saber fazer) ancorados na ética do trabalho, compromisso com o ensino (saber ser) e com o conviver societário. Insurge, para tanto, uma alternativa concreta de mudança da realidade 2022). É sabido que há em muitas instituições de ensino superior (IES) em que se exige como único requisito para a docência o domínio de conteúdos, ou adoção de expertise enquanto professor.…”