ResumoFaremos uma incursão teórica acerca das relações entre lutas sociais, políticas de Estado e regime político. Consideramos que esta perspectiva de análise favorece um duplo exume. Por um lado, das limitações estruturais das democracias brasileira e argentina. E, por outro, das potencialidades de novas "invenções democráticas" presentes nas demandas e nas formas de organização de determinados movimentos sociais através de suas lutas. Os governos civis eleitos ou não do início da década de 80, no Brasil e na Argentina, estão inseridos nesse contexto político impOItante: o neoliberalismo como urna força política e ideológica disputando a hegemonia da luta de classes dentro do aparelho de Estado. As atuações de Raúl Afonsin na Argentina e de José Sarney no Brasil, ora atendendo aos dita mes neoliberais soprados pelo FMI e pelo Banco Mundial, ora repudiando os, demonstram bem o conflito das classes e frações de classes com inte resses contraditórios dentro do aparelho de Estado. O capital financeiro internacional, protagonista desse processo, busca incessantemente alia dos locais para as suas empreitadas e, como veremos, consegue-os.
PalavrasÉ justamente nesse período que nos deparamos com aquilo que Huntington denominará de "terceira onda" de democratização. Se pensar 2 Utilizamos o conceito entre aspas porque ao longo da nossa abordagem notaremos que há sérias dúvidas se os países latino-americanos se tornaram democracias após a retirada dos regimes núlitares. Como veremos, há intelectuais que afinmlrão que. na verdade, se trata de um novo autoritarismo, embora legitimado por eleições. Com o sucesso da hegemonia neoliberal na América Latina, as mudanças na políticas de Estado serão visíveis: "em primeiro lugar, con trole da inflação por meio da adoção de uma drástica política de austerida de fiscal, endurecimento da política monetália e creditícia e redução dos salários; em segundo lugar, a maior privatização possível do setor públi co, sobretudo das suas companhias mais rentáveis, aceitando que estas fossem parar nas mãos do capital estrangeiro" (Harnecker, 20(0).Isso deve ficar claro, pois será a determinante para delimitarmos que tipo de "democracia" teremos na região, em especial na Argentina e no Brasil. Conforme nos aponta Antognazzi, podemos nos deparar com um falso dilema, ao contraponnos "ditadura militar" à "democracia", uma vez que isso "escamotea el peso deI poder financiero, esconde ai enemigo de cIase, limita la posibilidad de usar espacios que esta democracia aún admite, y es usada por el 'discurso oficial' como justificación de las polí-