Apresentação -Autoetnografias, escritas de si e produções de conhecimentos corporificadas

Abstract

Em seu texto, "A transformação do silêncio em linguagem em ação" (2020), Audre Lorde inicia dizendo: Passei a acreditar, com uma convicção cada vez maior, que o que me é mais importante deve ser dito, verbalizado e compartilhado, mesmo que eu corra o risco de ser magoada ou incompreendida. A fala me recompensa, para além de quaisquer outras consequências. Estou aqui de pé, uma poeta lésbica negra, e o significado de tudo isso se reflete no fato de que ainda estou viva, e poderia não estar. Há menos de dois meses ouvi de dois médicos, uma mulher e um homem, que eu deveria fazer uma cirurgia nos seios, e havia 60% a 80% de chance de o tumor ser maligno. Entre receber a notícia e a cirurgia em si, vivi três semanas na agonia de reorganizar involuntariamente a minha vida inteira. A cirurgia foi um sucesso, e o tumor era benigno.No entanto, durante essas três semanas, fui obrigada a olhar para mim e a refletir sobre minha vida com uma lucidez, penosa e urgente, que me deixou ainda abalada, mas muito forte. Muitas mulheres encaram essa mesma situação, inclusive algumas de vocês que hoje estão aqui. Parte da minha experiência durante esse período me ajudou a compreender melhor o que sinto em relação à transformação do silêncio em linguagem e em ação. (Lorde, 2020, p. 51-52).

Entre Tramas, Fios, Linhas E Bordados

“…A desestabilização dessas verdades absolutas passa significativamente pela escrita subjetiva de mulheres negras, que a partir do pensamento feminista negro articulam experiências pessoais, histórias de vida e ancestralidade. São escritoras que desafiaram normas academicistas e se opuseram à escrita objetiva, investindo em "produções de conhecimentos encarnados, de perspectivas diversas, situadas em diferentes corpos e lugares sociais; advogando contra a ideia de um sujeito indefinido, universal e baseado em padrões eurocêntricos" (Gama;Raimondi;Barros, 2021:3). Logo, a autoetnografia, como ferramenta contra-hegemônica, nos localiza e nos responsabiliza por aquilo que aprendemos a ver.…”