Este artigo examina um capítulo do longo e complexo processo de construção e consagração de Machado de Assis como autor literário – seja pelos modos como ele próprio atuou para se constituir e ser reconhecido como tal, seja pelas ações de terceiros – concentrando-se na análise das primeiras recolhas de seus escritos, por ele mesmo e pelos que a ele sobreviveram, e com especial atenção às duas primeiras coletâneas de textos de sua autoria, ambas publicadas em 1921: o volume 2 da Estante clássica da Revista de Língua Portuguesa, dirigida por Laudelino Freire, dedicado a Machado de Assis; e Machado de Assis por Alberto de Oliveira e Jorge Jobim, Coleção “Áurea”. Na atividade editorial do escritor e em torno dele, o que se observa é o movimento dúbio de ampliação do repertório de textos atribuídos a “Machado de Assis” e de restrição desse mesmo repertório com vistas à construção e consagração do escritor como figura exemplar, tanto linguística como moralmente, e ao estabelecimento de um primeiro cânone machadiano.