Análise narrativa e memória social: retratos em pequenas estórias da comunidade Arara em Teixeira de Freitas (BA)

Abstract

Neste artigo, analisa-se a tipologia narrativa consoante o modelo chamado de pequenas estórias. Concomitantemente, coloca-se em relevo a memória social da comunidade Arara em Teixeira de Freitas (BA) em uma perspectiva sociocognitiva e discursiva (NORRICK, 2019; PAVEAU, 2015; 2007). Como fundamentação teórica, mobiliza-se os estudos da análise narrativa (BAMBERG; GEORGAKOPOULOU, 2008; GEORGAKOPOULOU, 2015; FLANNERY, 2015). Metodologicamente, descreve-se as estruturas narrativas co-construídas por três velhos quilombolas moradores de Arara. Como resultado, mostra-se que os sujeitos co-constroem estórias não canônicas na interação, as lembranças são constituídas em linhagens discursivas e, finalmente, reflete-se na memória e narração como dimensões socioculturais interdependentes.

Marcadores discursivos, articulação narrativa e memória dos velhos de Arara em Teixeira de Freitas (BA)

“…Por conseguinte, busca-se contribuir com a descrição dos MD no discurso oral em registro informal e de sujeitos, em geral, sem escolarização ou com escolarização incompleta, tal como os (as) idosos (as) desta pesquisa que são agricultores (as), parte deles (as) aposentados (as), evidenciando as especificidades do texto oral popular. Por isso, subjaz ainda a orientação voltada à análise qualitativa, a partir de um corpus constituído de narrativas de velhos (CARMO, 2021a;2021b;2021c) para questionar como os MD contribuem no processo de conarração e articulação textual-discursiva da memória.…”

“…Na verdade, tem-se nesses e em outros tantos exemplos no corpus o trabalho da memória na construção narrativa (NORRICK, 2019), a relação da memória com os sentidos construídos na construção do tópico discursivo, tendo ainda uma profunda imbricação entre o plano discursivo e o plano textual-interativo para o entendimento dos lugares de memória na conversação(Carmo, 2021b;, posto ainda que "os lugares de memória discursivos são essencialmente [mas não unicamente] lexicais"(PAVEAU, 2013, p. 107).…”

“…Mesmo sendo relatos pessoais, PE em turnos longos, dona Eloísa evoca outras vozes partícipes da experiência e enuncia, interpelando sua audiência, considerando o sujeito entrevistador (S.E.) que a escuta: exemplo, dona Eloisa, na l. 04 do excerto 09, ao enunciar "eu fui muito sofrida", não só categoriza as imagens de suas lembranças, as quais dá materialidade discursiva, como também exprime a avaliação da PE contada entre as l. 01-04.Urge destacar que no corpusde Carmo (2021a;2021b; nem todas as PE apresentam canonicidade e os graus de reportabilidade são variáveis. Nesse processo de "textualização" ou discursivização da memória, os MD, como já afirmado, facilitam o trabalho inferencial a ser empreendido pelos interlocutores, diminuindo o esforço cognitivo como um todo(BLAKEMORE, 2002; PORTOLES, 2001).Fonte: Elaborado pelo autor.…”