A alfabetização científica vem sendo defendida, nas últimas duas décadas, por pesquisadores da área do Ensino de Ciências, como um dos pilares da educação científica e tecnológica, por possibilitar aos estudantes um protagonismo social, ao acompanhar os anseios que emergem das sociedades em seus tempos atuais. Na urgência dessa alfabetização científica, surge a necessidade de uma formação que permita aos cidadãos participarem da tomada de decisões em assuntos que se relacionam com a ciência e tecnologia, sendo um argumento democrático e frequentemente utilizado por estudiosos que reclamam a alfabetização científica e tecnológica como componente básico da educação para a cidadania (Cachapuz et al., 2005). De maneira geral, alguns conteúdos disciplinares apresentam-se de maneira descontextualizada da realidade dos estudantes, ainda que sejam temas de relevância no Ensino de Ciências. Para este texto, trazemos, como exemplo, as Doenças Transmitidas por Alimentos (DTA), vivenciadas em todas as esferas sociais[3]. Segundo Ferrari e Fonseca (2019), as DTA são doenças causadas pelo consumo de alimentos e/ou água contaminada, podendo ocorrer em qualquer ambiente onde a manipulação sem medidas adequadas de higiene não forem adotadas. Os principais alimentos envolvidos nas DTA são: ovos e os produtos que os tenham como base, leite e seus derivados, carnes de aves, suínos e bovinos in natura, cereais, hortaliças e pescados (BRASIL, 2016). De ocorrência mundial, as DTA podem resultar em surtos de pequenas, médias e grandes proporções. Dados da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) estimam que nesta região, a cada ano, 77 milhões de pessoas sofrem de DTA e mais de 9 mil morrem, embora sejam preveníveis e com sabidas formas de transmissão. Outro ponto é o impacto nos custos com saúde pública e, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), US$ 7,4 milhões anuais são gastos em sistemas de saúde reduzindo o desenvolvimento econômico como resultado da perda de confiança no turismo seguro, na produção de alimentos e no sistema de comercialização (BANCO MUNDIAL, 2016). Vários fatores contribuem para a ocorrência das DTA, dentre os quais a globalização, o crescente número populacional, surgimento de grupos vulneráveis, mudança de hábitos alimentares, urbanização desordenada e a necessidade de produção de alimentos em grande escala (DIAS; LEAL BERNARDES; ZUCCOLI, 2011, p. 19). Numa análise do contexto acadêmico, são encontrados poucos trabalhos voltados à interseção entre DTA e Ensino de Ciências. A esse respeito, Marques e Messeder (2022) buscaram mapear os trabalhos na forma de estado do conhecimento a fim de identificar o cenário desta interseção, com vistas a uma maior discussão no contexto pedagógico, principalmente no Ensino Fundamental.