São Paulo conta com dois conjuntos de aldeias guarani, um deles no extremo sul da cidade (Terra Indígena Tenonde Porã) e outro na região noroeste (Terra Indígena Jaraguá). Este artigo resulta principalmente de minha interlocução com moradores da aldeia Tekoa Pyau, na TI Jaraguá, cuja exiguidade do espaço e o adensamento urbano crescente do entorno impõem desafios cotidianos ao manejo das conexões e desconexões que garantem a individuação de potências que os singularizam como guarani. Buscarei abordar essa questão por meio de práticas de conhecimento sobre alimentação e comensalidade, com ênfase para o modo como meus interlocutores distinguem o que chamam de "alimentos vivos" e "alimentos mortos". No consumo de "alimentos vivos", é preciso manejar relações com seus donos-espíritos. No caso dos "alimentos mortos", a exemplo dos produtos ultraprocessados, as relações que os constituem são eclipsadas, tornando incerto (e perigoso) seu potencial agentivo. Partindo desta distinção, procuro apontar reflexões e inflexões guarani sobre alteridade, vulnerabilidade e a questão das mercadorias. PALAVRAS-CHAVE: guarani, São Paulo, alimentação e comensalidade, mercadoria, indígenas em contexto urbano, vulnerabilidade. "Dead food" and the owners in the city: commensality and alterity in a Guarani village in São Paulo São Paulo has two sets of Guarani villages, one at the extreme south of the city (Tenonde Porã Indigenous Land) and another in the northwestern region (Jaraguá Indigenous Land). This article is mainly based on my conversations with residents of the Tekoa Pyau village, at Jaraguá, whose space is meager and the environment densely occupied. The daily challenges to the management of connections and disconnections that individuate them as Guarani will be addressed through knowledge practices about food and commensality. An emphasis will be placed on how my interlocutors distinguish what they call "living food" and "dead food". In the consumption of "living food", it is necessary to manage relations with its spirits-owners. In the case of "dead food", such as ultraprocessed products, the relationships that constitute them are eclipsed, making their agentive potential uncertain (and dangerous). Departing from this distinction, I intend to point out Guarani reflections and inflections on alterity, vulnerability and the topic of commodities.