A conjuntura política, cultural e intelectual do início dos anos 60 no Brasil (e no mundo atlântico de forma mais geral) produziu novas concepções sobre a natureza das relações entre o Brasil e a África e, ao mesmo tempo, sobre a natureza da noção de africanidade e da inclusão racial no Brasil. Embora o enfoque da produção acadêmica tenha ressaltado que essa visão particular da africanidade brasileira serviu a um projeto político de governos nacionais e locais, a idéia na verdade surgiu de uma convergência complexa de projetos e agendas, nas quais africanos e brasileiros afro-descendentes desempenharam um papel fundamental. Este artigo delineia os processos imprevisíveis através dos quais esses diversos grupos convergiram para defi nir e divulgar uma africanidade brasileira no início dos anos 60, no auge da celebração de uma democracia racial virtualmente inclusiva, antes da instauração da ditadura militar (nos anos 60) e da rejeição da democracia racial como um mito. O artigo procura analisar as implicações políticas daquele momento tal como ele foi sentido por muitos que viveram aquele período: em termos que incluem não só as limitações, mas também as possibilidades que a renovação dos laços atlânticos legou aos brasileiros de origem africana na sua tentativa de defi nir a sua cidadania e seu lugar no Brasil. Finalmente, o artigo propõe uma compreensão do mundo atlântico que se estende para além do limite temporal tradicional de meados do século 19, para incluir ações de indivíduos -e de estados pós-coloniais -no século 20. Bem dizia você, Romana, que ainda havia de vir mais brasileiro para cá. Residents of the Brazilian neighborhood of Lagos, Nigeria to Romana da Conceição, early 1960s W4810.indb 78 W4810.indb 78